É difícil perceber para onde caminha o mundo, levado pela mão - como está a ser - pela mais rápida progressão de inovações tecnológicas a que a Humanidade já assistiu. Revoluções tecnológicas que, há um século, demoravam anos a produzir efeitos, agora ocorrem em semanas. A multiplicação vertiginosa de modelos de Inteligência Artificial é apenas um exemplo disso.Esta progressão exponencial de inovação e impacto nas populações - primeiro nos early adopters, como os jovens, e depois na restante malha de cidadãos - choca de frente, dolorosamente, com a linearidade (para não dizer lentidão) das instâncias que nos governam. Quaisquer planos que um governo queira encomendar para perceber e sugerir linhas de ação para minimizar estes impactos estarão obsoletos ainda antes de a equipa de especialistas estar escolhida. Mas isso não é razão (nem desculpa) para se abdicar de tomar medidas. O Governo australiano não esperou por um estudo mais amplo sobre o impacto das redes sociais nos jovens para aprovar uma lei para impedir que os menores de 16 anos possam ter uma conta em plataformas como o Facebook, o Instagram, Snapchat, Threads, TikTok, X, YouTube ou Reddit.Ontem, milhares de contas de jovens australianos nas redes sociais começaram a ser apagadas pela Meta. Nos próximos tempos, o “apagão” poderá chegar às 150 mil contas no Facebook e 350 mil no Instagram.A medida não passou sem críticas. Apesar de o governo australiano ter dito que a lei visa proteger as crianças e adolescentes de conteúdo prejudicial e de riscos como o cyberbullying ou o aliciamento para fins sexuais ou religiosos, vários ativistas dizem que a proibição é um atentado aos direitos dos jovens e que apenas os vai lançar na Dark Web, o que será, porventura, ainda mais perigoso.Seja como for, é dolorosamente difícil ler sobre as práticas criminosas contra jovens nas redes e sobre os comportamentos dos próprios adolescentes nestas plataformas e não pensar que é inaceitável os governos ficarem de braços cruzados. Alguém tinha de dar o primeiro passo e, acredito, vários países se seguirão, mesmo que com formas e conteúdos diferentes.Talvez porque vivamos mesmo nos antípodas, temos muita dificuldade em associar a Austrália a um papel de liderança nas políticas públicas. Mas assim tem sido. Em 1856, a Austrália Meridional (ou Austrália do Sul) - um dos seis Estados que viria a formar o país que hoje conhecemos - aprovou o voto universal para todos os homens. Em 1894 alargou-o às mulheres, que passaram a poder ser eleitas para o Parlamento. Só mais de 20 anos depois esse direito seria consagrado no Reino Unido ou nos Estados Unidos. Em Portugal, o voto das mulheres só se cumpriu em pleno após o 25 de Abril de 1974.Às vezes é preciso mesmo olhar fora da caixa - ou para o outro lado do mundo - para perceber que há medidas que o progresso não deixa que sejam adiadas.Diretor adjunto do Diário de Notícias