Ainda mal refeitos do apagão, gostaria de realçar o comprometimento e o profissionalismo de milhares de pessoas num dia atípico. Em particular, vale a pena elogiar o trabalho excecional que ocorreu nas rádios, bem como o papel crítico do pequeno comércio tradicional, uns e outros agentes essenciais para que a passada segunda-feira tivesse sido um pouco menos atemorizante.Feita esta nota, com a campanha eleitoral a aproximar-se, gostaria de elencar aquelas que deverão ser as prioridades económicas e sociais dos partidos políticos com vocação para governar.Precisamos de um governo que estabeleça como prioridades o acesso à habitação e a redução da carga fiscal.O padrão de especialização da nossa economia, assente num turismo massificado de hotelaria low cost e de alojamentos locais, gerou uma enxurrada de turismo barato, com consequências brutais em termos de destruição da oferta para arrendamento clássico e um aumento exponencial da procura.O acesso à habitação a preços que os salários nacionais permitam pagar terá de ser a prioridade do próximo governo, tanto para compra como para arrendamento. O contrário implicará um risco sério de implosão social, ataques desenfreados aos direitos de propriedade, bem como soluções populistas que causarão instabilidade e nada resolverão.Temos de limitar fortemente as atividades económicas que geram pouco valor acrescentado, ou que criam empregos mal remunerados, e que tanto pressionam a oferta bem como a procura de habitação.Esta é a chave para colocar um travão na imensa dificuldade sentida no acesso à habitação. Como não poderia deixar de ser, respeitando os investimentos feitos e as expectativas de quem já neles investiu.Por isso, urge lançar parcerias público-privadas na habitação. Recorrendo a terrenos públicos, o Estado deve lançar concursos e pagar a construção. Estado que tem, importa lembrar, um custo de financiamento muito mais baixo do que aquele que tem qualquer empresa privada. Às entidades privadas competirá gerir o stock de casas (arrendamento e manutenção) e, no final do contrato, os imóveis permanecerão na esfera pública.Esta é a solução para termos oferta de casas em tempo útil. Em parte, foi assim que construímos a melhor rede de autoestradas na Europa. E foi também deste modo que renovámos o parque escolar e uma parte da rede hospitalar.Em momento posterior, teremos de desagravar os impostos sobre o trabalho. Utilizar robots e máquinas ocasiona um custo fiscal, mas embaratece o custo final. Usar pessoas, um ónus em adição aos salários, é tanto pior quanto mais qualificadas e remuneradas forem essas mesmas pessoas. E o que dizer de os rendimentos do trabalho pagarem até duas vezes mais impostos que os rendimentos de qualquer forma de capital?É surreal. Algo típico de um qualquer principado assente numa economia de casino e de estrelas de Hollywood. Não é o nosso caso, seguramente.Presidente do SNQTB