Quem viveu na última década dos século passado poderá lembrar-se do fim da separação da Europa, da independência de Timor Leste, do fim do Apartheid na África do Sul ou das mais de 25 conferencias internacionais organizadas pela ONU sobre questões políticas, económicas ou sociais..Quem vive neste século lembra-se da crise financeira, da pandemia, da guerra e dos riscos provocados pelas alterações climáticas e pela revolução da Inteligência Artificial..Não se diz que tudo foi ótimo entre 1989 e 2001 e que, desde a queda das Torres Gémeas, tudo é péssimo. Mas dizer-se que antes foi melhor do que depois. Não que os problemas fossem outros ou fossem menores, mas soluções foram melhores e mais capazes de responder às aflições que atravessámos. Soluções que tiveram por base um entendimento partilhado sobre a procura de fórmulas conjuntas e sobre o papel das organizações internacionais..Foi esse o entendimento que se perdeu nos últimos 20 anos. Senão vejamos: - as Nações Unidas atravessam uma crise profunda, patente e óbvia quando um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança - órgão de promoção da paz por excelência - violou o Direito Internacional e as regras da ONU e o invadiu um Estado soberano enquanto presidia ao dito Conselho;. - a NATO, cuja necessidade está patente na Ucrânia, corre o risco de regressar à paralisia e, quem sabe ao abandono, se Donald Trump vencer as eleições americanas de novembro próximo;. - a UE tem 10 países em que há partidos da direita mais radical no Governo e mais cinco países onde as sondagem apontam para ganhos importantes nas eleições deste fim de semana, manifestando desconfiança ou até negando os mecanismos e princípios da integração da UE, o que terá implicações no Governo da Europa e na sua atuação;. - e, finalmente, a OMC, cujo Sistema de Resolução de Conflitos do Comércio Externo está paralisado há anos porque os Estados não se entendem para preencher as vagas dos juízes..Ou seja, quando o mundo mais precisa de espaços onde os Estados possam conversar e resolver as suas dificuldades, vemos algumas das mais importantes organizações internacionais - e aquelas que representam o esqueleto da nossa presença diplomática multilateral - a viverem entre a paralisia, a disfuncionalidade e a incerteza. E o que seria de Portugal num mundo anárquico....E quando perguntamos a quem defende que nada está acima dos Estados, como é que pretendem organizar o mundo, não obtemos qualquer resposta coerente ou sequer pensada. Ouvimos uns lugares-comuns e umas ideias antigas e ultrapassadas sobre a soberania, umas propostas que foram tentadas antes da Segunda Guerra Mundial ou até mesmo antes da Revolução Francesa, de quem não parece entender que hoje é possível comunicar instantaneamente, viajar de Lisboa a Sidney em menos de um dia e destruir o Planeta todo em poucas horas. O mundo ficou mais pequeno e tudo o que acontece pode afetar-nos..Quem acha que podemos gerir os problemas do presente e do futuro com soluções antigas, sem os mecanismos que permitam termos as conversarmos difíceis que são necessárias para, cedendo em algumas coisas, ganharmos em muitas outras, sem processos e políticas que nos ajudam a corrigir desequilíbrios de desenvolvimento e injustiças da História ou da modernidade, sem considerarmos todas as vozes e todas as preocupações, acha que o mundo é um lugar simples. Não é. E quem não tem respostas para o mundo de hoje, não deve governá-lo.