Portugal é um dos países mais envelhecidos do mundo e um dos países da Europa com a mais elevada taxa de emigração. Um inquérito recente sobre este tema mostrou que cerca de metade dos jovens com menos de 25 anos revela vontade de emigrar. Os baixos salários, a habitação inacessível e o custo de vida estão entre os principais fatores que motivam a juventude a sair do país. Olham para Portugal e não veem presente, quanto mais futuro..Perante a ameaça de debandada geral, o Governo tratou de fabricar um penso rápido a inscrever no Orçamento do Estado para 2024, com o qual pretende tapar o grave problema económico e a profunda ferida do tecido social. Os "presentinhos do primeiro-ministro aos jovens" (assim lhes chamou a socialista Ana Gomes no seu comentário televisivo) passam pela devolução das propinas, a redução do IRS nos primeiros 5 anos de trabalho e transportes gratuitos até aos 23 anos de idade. Para os mais novos, acresce um cheque-livro aos 18 anos de idade e um vale de uma semana de férias nas Pousadas da Juventude, com quatro bilhetes de comboio, para quem completar a escolaridade obrigatória..Na prática, aponta-se para a gratuitidade das propinas e dos transportes, bem como para um IRS jovem nos primeiros anos de trabalho. Medidas que, de resto, já haviam sido anteriormente propostas pelos partidos à Esquerda do PS. Não contesto e considero-as até valiosas e justas, tendo em consideração a carga fiscal que pende sobre os portugueses. Mas não será por isto que os jovens permanecerão em Portugal..Há diferenças fundamentais que definem politicamente os governos. E essas diferenças observam-se na abordagem aos problemas. Ou se enfrentam ou se contornam. Nenhuma destas medidas, embora positivas, resolve o problema dos baixos salários, da falta de uma habitação que os jovens possam pagar, do enorme custo de vida que não para de aumentar. Porque não há soluções fáceis, nem rápidas, para problemas que são complexos e relativamente aos quais se exigem medidas estruturais de médio e longo prazo..Sabemos que há uma ligação entre Educação e desenvolvimento económico, entre inovação tecnológica e produtividade, entre habitação pública e acesso a uma casa que se possa pagar. Andariam por aqui as complexas soluções para os difíceis problemas que levam os mais jovens a cogitar na emigração. Mas a Educação não está alinhada com uma estratégia de desenvolvimento económico, vive em sobressalto permanente, com professores extenuados por um sistema que lhes corrói a motivação. Portugal investe menos 70% do que a média da União Europeia em investigação e desenvolvimento, que é a base da inovação e transferência de tecnologia para a economia. Temos apenas 2% de habitação pública, quando outros países da União Europeia têm 20%, 30% e algumas regiões mais ainda..Devolvam-se as propinas e ofereçam-se os passes. Garanta-se o IRS Jovem, deem-se cheques-livros, férias e bilhetes de comboio. Mas continuaremos envelhecidos e pobres..Professor do Ensino Superior