Já perdi a conta à quantidade de vezes que os sindicatos tentam em vão limitar os horários do comércio durante os dias úteis e também ao domingo. Um jornal noticiou a insistência assim: “Lojas fechadas aos domingos e feriados? Ainda não deverá ser desta vez”. Quando uma exigência é rejeitada constantemente pela esmagadora maioria dos partidos políticos com assento parlamentar, quando até as petições perdem flagrante força – têm um número de assinaturas cada vez menor –, seria importante que os representantes dos trabalhadores percebessem esse sinal inequívoco da sociedade..Tudo isto, todas estas ideias fazem parte da velha e gasta ideia de que os empresários, sejam eles grandes, pequenos ou médios, vivem da exploração. Haverá casos assim? Certamente, como há bons e maus advogados, bons e maus jornalistas. Há sempre bom e mau e médio em tudo. No entanto, a esmagadora dos empresários preocupa-se com o serviço que presta. Há concorrência, a escolha das pessoas é absolutamente fundamental em tudo. Preservar e cultivar o talento, além de premiar a dedicação e o esforço são, por essa razão, o motor de qualquer empresário que queira prosperar – ninguém triunfa sozinho. O tempo premeia sempre os bons e penaliza a má gestão..Acresce a isto que as novas gerações, e estou a pensar concretamente nas Z e Alpha, nascidas de 1995 em diante, embora não apenas nelas, têm um sentido de exigência de certa forma maior – e ainda bem que é assim. A evolução da lei também tem de ser sublinhada e ela hoje em dia protege os trabalhadores como nunca protegeu..Quem trabalha ao fim de semana ou à noite tem justamente benefícios financeiros, ganha mais, as horas extra também são remuneradas e há limites a cumprir, ou seja, o enquadramento legal é tudo menos permissivo ou lasso. Todos os empresários o sabem. O caso português é ainda mais paradigmático: a quantidade de regras e obrigações é imensa e por vezes até excessiva. É tudo regulado, esquecendo-se o legislador que cada regra custa sempre dinheiro a alguém..Estamos em agosto, há muitas pessoas de férias, outras estão a trabalhar, mas seja como for há maior tranquilidade no ar, este seria o tempo ideal para olharmos para o que nos rodeia com menos parcialidade e maior abertura. Preocupa-me muito a tendência europeia – e não apenas a obsessão portuguesa – para complicar e dificultar. Será que não salta à vista de todos a falta de investimento na União Europeia e que o excesso de intervenção do Estado está a atrasar-nos face aos EUA e à Ásia? Estamos a onerar e dificultar o que é mais natural no ser humano: a necessidade de evoluir, melhorar e avançar. A vontade de empreender está a ser condicionada..Obviamente, o Estado Social tem de ser protegido, os direitos do trabalhadores têm de ser preservados, mas é um delírio pensar que um país como Portugal pode ter regras e mais regras – e mais uma nova camada por cima – que, na verdade, apenas prejudicam a vida das pessoas. Fechar o comércio ao domingo? Seria um pesadelo para milhares de pequenos e médios empresários. Perder-se-iam também milhares de empregos, alguns deles importantes na vida de estudantes-trabalhadores que precisam desta flexibilidade horária. E seria também desastroso para as famílias que fazem as suas compras semanais à noite ou ao domingo. Queremos concentrar tudo ao sábado? Queremos afunilar mais ainda as oportunidades? Claro que não. A riqueza não nasce do nada. Tem exigências, implica esforço. Nunca nos podemos esquecer disto. Não há almoços grátis – uma lição já velhinha, mas que ainda não foi compreendida por todos.