É algo que qualquer bom filho deve ter como princípio adquirido: chegado o dia em que isso for preciso, fazer por cuidar dos nossos pais tão bem como eles cuidaram de nós. Ajudá-los a manter a dignidade que merecem, com a melhor qualidade de vida possível nos seus últimos anos, tal como eles nos ajudaram a crescer e nos prepararam para este mundo. Devolver aquele colinho em noite de febre, a história contada para adormecer ou até as horas passadas em salas de espera de hospitais e centros de saúde, se preciso for. Cuidar dos nossos pais como eles cuidaram de nós (pelo menos para quem teve a sorte de ter uns pais que merecem ser cuidados) é hoje uma preocupação cada vez mais presente no dia a dia da maioria dos portugueses. E um dos maiores dramas de uma sociedade atual envelhecida onde faltam respostas sociais que garantam aos nossos seniores a dignidade que mereciam nos anos finais de vida. Num país que está entre os mais envelhecidos do mundo, com uma esperança média de vida a rondar os 81,5 anos, mas abaixo da média da OCDE no número de anos de vida saudável após os 65 (apenas 8,4 em média), sabemos que a maioria das famílias portuguesas se confronta com um cenário em que a velhice chega acompanhada da doença para algum dos seus pais ou avós. E quem passa por isso também sabe que encontrar respostas adequadas é um caminho feito de portas fechadas, listas de espera intermináveis e custos incomportáveis para famílias de rendimento médio. Os lugares disponíveis em lares são raros e caros, na maioria dos casos bem acima do que as pensões dos nossos pais podem suportar, a resposta social tem filas de espera que se projetam por vezes para lá do tempo de vida restante, o apoio domiciliário é limitado e insuficiente... e os nossos idosos ficam muitas vezes entregues à solidão ou aos destratos de soluções ilegais e, tantas vezes, degradantes. Apesar dos esforços para reforçar a Rede de Cuidados Continuados Integrados, a realidade continua crua e triste para grande parte dos nossos “maiores" (é bem mais feliz a expressão dos nossos hermanos aqui ao lado). O peso recai tantas vezes sobre famílias exaustas, cuidadores informais muitas vezes também envelhecidos e um sentimento persistente de culpa por não se conseguir fazer mais e melhor. Uma culpa que nos corrói a alma a cada memória de um colo de infância. Cuidar dos nossos pais não devia ser um ato de heroísmo nem um privilégio de quem pode pagar. É uma responsabilidade partilhada que devíamos assumir como prioridade coletiva. Porque a forma como tratamos os nossos idosos diz muito sobre o país que somos e, claro, sobre o país em que um dia iremos também nós envelhecer.