Os fantasmas do imperialismo

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Trump ainda nem (re)entrou na Casa Branca e já começou a partir as porcelanas que restam na ordem global, ameaçando invadir meio mundo, da Gronelândia ao Panamá, com os vizinhos canadianos pelo meio. Por cá, para espanto de rigorosamente ninguém, não faltam já os pseudo-patriotas da praxe, esses herdeiros espirituais de “Pétain” - para quem não se recorda das aulas de História, procurar na parte sobre a II Guerra Mundial -, a lembrar nas “democráticas” redes sociais do momento que os Açores também estão ali no meio do Atlântico, à mão de semear, salivando com uma qualquer Vichy onde possam ser felizes.

Se ainda não sabemos até que ponto as ambições expansionistas de Trump são para levar a sério ou apenas conversa de bully em recreio de escola, o que se afigura indesmentível é que voltam a agitar-se os fantasmas do imperialismo na atmosfera geopolítica. E aí, Trump é apenas o mais recente jogador a (re)entrar no jogo. Se Biden representou, nos últimos quatro anos, uma vontade dos Estados Unidos de fazer resistir uma Aliança Ocidental perante os ímpetos imperialistas de Rússia e China, reforçando os laços com os aliados na Europa e na NATO, Trump esfrangalha qualquer réstia de multilateralismo e cooperação internacional para acrescentar um novo foco expansionista no tabuleiro.

O imperialismo moderno não é necessariamente igual ao colonialismo de que Portugal foi um dos atores principais, mas ecoa a sua essência: o controlo político, económico e estratégico de regiões que ampliem a influência de uma potência. Como Portugal e Espanha em Tordesilhas, os pretensos novos imperialistas lutam apenas pelo maior quinhão no redesenho do mapa de influência mundial.

É o que procura a Rússia com a invasão da Ucrânia, a militarização do Ártico ou o controlo do Mar Negro, como é o que pretende a China no Mar do Sul da China, nas suas reivindicações sobre Taiwan ou nos projetos globais da sua nova Rota da Seda. Mais do que o mero exibicionismo ególatra que todos lhe conhecemos, é esse também o objetivo de Trump: ampliar a influência dos Estados Unidos, ameaçada pelos avanços do eixo de influência sino-russo, garantindo controlo de áreas tão importantes quanto o Ártico, Panamá ou Golfo do México.

Ao contrário de Biden, um típico quadro político da Guerra Fria, Trump tem a diplomacia de um elefante enfurecido que não se importa de pisar seja quem for para garantir a supremacia americana e continuar a engordar a elite económica em seu redor. Para isso, conta agora até com um Exército de multimilionários tecnológicos dispostos a varrer como “lixo woke” a própria democracia, se preciso for, acusando-a de censura.

Editor do Diário de Notícias

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