Os dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), divulgados a meio do mês passado, davam conta de que em 2025 o número de acidentes rodoviários subiu para mais de 125 mil, entre 1 de janeiro e 13 de novembro. Houve menos mortes que em 2024, mas mais acidentes com feridos graves. Este fim-de-semana, um acidente rodoviário trágico foi notícia: seis jovens, com idades entre os 18 e os 20 anos, morreram carbonizados depois de o veículo onde seguiam se ter despistado e batido contra um pilar numa das principais vias de Lisboa.A história é trágica, e nada conseguirá aplacar a dor que as famílias destes jovens deverão estar a sentir neste momento. Mas enquanto as autoridades trabalham para tentar perceber o que realmente aconteceu numa noite que, calculamos, devia ser apenas de folia e divertimento, o caso deve fazer-nos pensar enquanto sociedade.Há uns meses o Dinheiro Vivo/DN publicou uma entrevista a duas responsáveis da seguradora Zurich, que chamavam a atenção para o aumento da sinistralidade com graves consequências, sobretudo entre os mais novos – que são, por motivos naturais – menos avessos ao risco. Algo que é transversal a vários países europeus, mas que tem números expressivos em Portugal. Na ocasião, identificavam três fatores principais que contribuíam para esta realidade: velocidade inadequada às condições existentes, consumo de algum tipo de substâncias intoxicantes (mais drogas do que álcool nas novas gerações) e, em primeiro lugar no pódio das causas de mortes nas estradas europeias: a condução desatenta.Facto é que cada vez mais vemos pessoas a olhar para todos os pontos menos para a estrada: telemóveis, painéis cada vez mais interativos nos próprios automóveis…esquecendo que têm nas mãos uma arma de aproximadamente duas toneladas que, facilmente, provoca danos irreparáveis em si ou nos outros. E se acredita que só “acontece aos outros”, deixe-me acrescentar mais uns números: este ano, os acidentes em Portugal já provocaram 2 451 feridos graves (mais 40 do que em igual período de 2024) e 39 316 feridos ligeiros, mais 686 em termos homólogos. As tragédias como aquela com que comecei o texto são um dos maiores pesadelos para qualquer pessoa. Como sociedade, devemos às famílias enlutadas o esforço de uma reflexão séria sobre o que se passa nas estradas portuguesas e sobre onde estamos a falhar: os governantes, enquanto legisladores; os educadores enquanto veículo de informação e todos nós, sociedade, enquanto exemplo ao volante.