Amanhã a Assembleia da República votará favoravelmente, quiçá por unanimidade, a alteração da lei que permitirá aos Institutos Politécnicos Portugueses lecionar doutoramentos e passarem a denominar-se Polytechnic Universities... assim na língua universal, para o mundo inteiro perceber..Talvez seja uma boa ocasião para uma pequena reflexão sobre o caminho que o Ensino Superior tem tomado, talvez erradamente, para responder à necessidade premente dos sistemas de avaliação, de qualidade, de competição..No mundo inteiro as instituições de ensino superior passaram a ser instituições preocupadas em responder aos rankings, que se baseiam fundamentalmente no número de centros de investigação acreditados, nos montantes transacionados, nas patentes registadas e no número de publicações e citações em revistas de referência. Portugal seguiu esta tendência e hoje podemos ter maus professores, cursos que pouco estimulem o pensamento crítico e estarmos a falar das melhores instituições à luz dos rankings mundiais. Nada, nem ninguém, avalia verdadeiramente o ensino. As chamadas universidades de investigação, que não o são na absoluta definição do termo, ensinam as ciências tradicionais e as novas ciências aplicadas, mas tendo sempre presente que o que lhes dá prestígio é a área de investigação, que permite à instituição e aos seus professores serem conhecidos e reconhecidos no mundo inteiro..Hoje, muito por força da forma como estas instituições são financiadas, pela forma como os alunos são alocados a cada instituição, pela forma como podem ou não abrir cursos e admitir alunos, as instituições veem-se obrigadas a focar-se na obtenção do maior número de alunos possível, o que significa mais propinas e que pode significar mais do orçamento de estado. Mas veem-se também obrigadas a dar atenção a todo o dinheiro competitivo que puderem, pois só este as ajudará a manter a porta aberta. O financiamento através de fundos europeus permite a manutenção e recuperação do património e o financiamento da investigação, permite procurar as patentes, as publicações e os rankings..Hoje a maioria dos alunos não escolhe a universidade, escolhe primeiro o curso e só depois a instituição... de facto a forma como a sociedade evolui, mas também a forma como funciona o acesso ao ensino, faz com que o curso tenha deixado de ser escolhido apenas e só por vocação e gosto, mas baseado nas classificações que lhe permitem o acesso e na empregabilidade que o mesmo garante. A pressão da sociedade obriga os bons estudantes a escolher cursos com médias de acesso mais altas, mesmo que longe do seu gosto e vocação, apenas pelo prestígio que tal traz associado..Talvez valha a pena aproveitar esta alteração da lei e a reflexão já iniciada sobre o regime jurídico das instituições de ensino superior para, em conjunto com os intervenientes no processo educativo, repensar a universidade (o ensino superior) como algo que garante vocações e aprendizagens pedagogicamente adequadas. Talvez estas possam voltar a ter no seio da universidade a importância que tem hoje a investigação..Presidente do Instituto Politécnico de Coimbra