Opinião pessoal (LXXXII) Sobre Alqueva

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Alqueva é uma simpática aldeia situada no concelho de Portel (Évora), bem perto do Rio Guadiana, o que explica o nome dado à famosa barragem que foi erguida para impedir a respetiva linha de água de prosseguir livremente o seu caminho até ao mar. A partir de 2002, quando fecharam as suas comportas, deu origem à formação de uma imensa albufeira: um grande lago, artificialmente criado.

Assisti à sua construção, uma vez que residia em Beja, onde era delegado de saúde. Tal como a generalidade da população, regozijei-me com a decisão da edificação do paredão gigante à cota mais alta que iria gerar a vastíssima reserva de água.

Entretanto, em 1995, tinha sido formalizada a criação da EDIA como empresa de capitais públicos destinada a impulsionar o desenvolvimento e as infraestruturas necessárias à utilização da água para fins múltiplos, mas, especialmente para a agricultura. Um novo perímetro de rega surgiu onde habitam mais de 150 mil pessoas. Era tempo de justificado entusiasmo. Mudança. Fim da crise. Confiança no futuro.

Minha Mulher, arquiteta, assumiu, na EDIA, a responsabilidade de coordenar a “deslocação” da velha Aldeia da Luz que ficaria, irremediavelmente, submersa. Com muita graça, costumava dizer que a aldeia ira mudar de sítio “de patins” para uma mais zona alta, a fim de fugir à inundação. Assim aconteceu. Em 2002, a Nova Aldeia foi inaugurada para acolher os mesmos moradores da velha. Tudo parecia bem encaminhado. Iniciativa irrepreensível. Promessas cumpridas.

Mas...

Inesperadamente, as terras começaram a ser vendidas pelos anteriores proprietários e tudo se transformou muito rapidamente. A agricultura clássica, de sequeiro, mediterrânica, foi abalada, desfigurada e mudada pela fartura dos canais de rega. Água em abundância. Seguiu-se a exploração superintensiva da terra com desregrada utilização de fitofarmacêuticos. As culturas abeiram-se das casas de habitação, causando justificados receios pelos riscos que representam, visto que são substâncias cancerígenas.

A questão que agora se coloca é assegurar a qualidade ambiental e a saúde pública.

NOTA: Como sempre acontece, estarei em férias em Agosto. Claro que irei observar as recomendações habituais para a estação: proteção solar na praia, na piscina e no campo, uso sistemático de T-shirt, de chapéu de abas largas (tipo panamá de papel) e óculos escuros. Infelizmente, não estarei disponível para veranear à volta de Alqueva. Espero que os governantes do meu país promovam garantias para controle e prevenção dos efeitos nocivos das plantações intensivas (como sucede com os superolivais de hoje).

Precisamos de MELHOR ALENTEJO.

Estarei de volta em Setembro.

Ex-diretor-geral da Saúde

franciscogeorge@icloud.com

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