Opinião pessoal (LXXXIX) Sobre vacinação

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Já aqui escrevi sobre a descoberta da primeira vacina pelo médico inglês Edward Jenner (1749-1823): a inoculação de pessoas com o líquido obtido a partir das vesículas de vacas doentes com vaccinia iria protege-las da varíola (1796).

Em homenagem a Jenner, o cientista francês Louis Pasteur (1822-1895) passou a utilizar a designação de vacinação (alusiva a vaccinia) para todas as inoculações administradas com o fim para evitar doenças infeciosas. Pasteur, na altura, não imaginaria que o método de Jenner iria erradicar a varíola, mas sabia que a sua descoberta era uma conquista extraordinária para a Humanidade. Assim aconteceu, a partir de 1980, a varíola passou a ser uma infeção que existiu no passado. O vírus nunca mais voltou a circular. Nunca mais voltou a provocar epidemias. Nunca mais voltou a provocar doença. Nunca mais voltou a matar.

A libertação do risco que a varíola antes constituía (conhecida, entre nós, por bexigas) explicaria a determinação em desenvolver ações preventivas para outras infeções, virais ou bacterianas, através de programas devidamente planeados, geridos e avaliados.

Nesse contexto, percebe-se que a Direção-Geral da Saúde (DGS) tenha promovido uma sessão pública para assinalar os 60 anos do Programa Nacional de Vacinação, a fim de divulgar novos sucessos, comprovadamente, já alcançados.

Começo pelo princípio.

Em 1965, a médica Maria Luísa Van Zeller (1906-1983), então Diretora-Geral da Saúde, lançou a vacinação das crianças que, desde logo, contou com o apoio financeiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Cedo, a DGS definiu como princípios estratégicos fundamentais: facilidade de acesso, universalidade e gratuitidade, na perspetiva em garantir equidade absoluta, sem qualquer discriminação. Nesse ano (1965), as vacinas do calendário oficial destinavam-se à prevenção da tuberculose, tétano, difteria, tosse convulsa e poliomielite, além da varíola.

Naturalmente, o Programa Nacional de Vacinação iria evoluir em função das mudanças ocorridas no padrão epidemiológico (morbilidade e mortalidade) e, ainda, das novas possibilidades proporcionadas pelos imensos avanços dos conhecimentos científicos e em tecnologia, que afinaram o fabrico de vacinas. A este propósito, sublinho que, hoje, todas as vacinas licenciadas são seguras. Aliás, não faria sentido que assim não fosse.

Em Portugal, a prevenção das infeções contemplada no Programa Nacional de Vacinação, aprovado pela DGS, baseia-se na produção de anticorpos protetores para prevenir a ocorrência de doenças infectocontagiosas e, igualmente, para evitar determinados cancros.

(continua)

Ex-diretor-geral da Saúde

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