Opinião pessoal (XLIV)
Regresso ao tema da água para consumo humano. Proponho dois apontamentos: um olhar para trás e outro para diante.
Primeiro, para trás
No século XVIII, perante o crescimento progressivo de Lisboa, era necessário aumentar o abastecimento de água. Constituía um problema, porque os elevados teores de poluição e salinidade do Tejo (devido às marés do Atlântico), tornavam impossível a utilização de água fluvial. Exigiam-se outras soluções para superar a escassez de água. Havia , por isso, que procurar alternativas para levar água aos bairros da cidade.
Surgiu, então, a ideia de um aqueduto. Foi isso mesmo que aconteceu. Em 1748, no final do reinado de João V de Bragança, terminaram os complexos trabalhos de construção do grande sistema que começava por captar água na nascente das Águas Livres, em Belas (também chamada Ribeira de Carenque) para a conduzir, por gravidade, até à capital.
Obra excelente, o Aqueduto, erguido em blocos de cantaria que formatam sucessivos arcos, ficou intacto depois do Terramoto de 1755. Um orgulho para os seus arquitetos e engenheiros!
Mesmo assim, as acesas discussões pelo acesso à água não pararam. Nesse tempo, eram comuns processos para arbitrar direitos de serventia em disputa. Em 1778, também o próprio Marquês de Pombal foi denunciado pelo “Coxo das Águas Livres” como tendo desviado abusivamente, em proveito próprio, as águas de dois chafarizes públicos: às Janelas Verdes e à Rua Formosa (atual Rua do Século). Processo que interpreta a desgraça que viveu após a morte do rei José de Bragança (1777).
Olhemos o futuro
Antes de mais, há que reconhecer, de forma positiva, a crescente tomada de consciência da população para as questões ambientais, particularmente sobre a reivindicação da garantia da qualidade da água.
Em termos de sustentabilidade, há desafios que, pela certa, teremos daqui em diante, relacionados com a quantidade e com a qualidade da água destinada a consumo das populações. As múltiplas dimensões da sua utilização poderão estar em risco: redes prediais, agricultura (rega e agropecuária), indústria, produção de energia elétrica (barragens), atividades desportivas aquáticas, lazer e turismo. Representam desafios que não podem ser ignorados, atendendo ao contexto dos efeitos previsíveis que decorrem das alterações climáticas (aquecimento global) associadas à poluição dos recursos hídricos, nomeadamente por microplásticos.
Conclusão: É crucial gerir a água na perspetiva de a poupar e de não desbaratar um só litro.
O binómio não desperdiçar & armazenar continuará a ser cada vez mais importante para todos nós e, sobretudo, para as gerações seguintes.
É uma questão de responsabilidade e de inteligência.