O meu filho tem pesadelos
As crianças referem muitas vezes que têm «sonhos maus», associados a angústia, medo e ansiedade. Falamos dos pesadelos, que deixam memórias no dia seguinte e que são frequentes em crianças mais novas. Podem relacionar-se com mudanças que a criança esteja a vivenciar, novos desafios ou experiências de vida mais adversas. Como devem os pais reagir? O que fazer? E o que não fazer?
Antes de mais, sabemos que os pesadelos estão frequentemente associados a mudanças de escola, ao nascimento de um irmão, à separação dos pais, à morte de alguém próximo ou a conflitos com os colegas e amigos. Podem ainda surgir associados à vivência de experiências mais traumáticas, como o bullying ou outro tipo de violência. Muitas crianças têm pesadelos relacionados com conteúdos que veem na televisão ou na internet, como monstros, lendas ou seres imaginários. Por outro lado, a situação pandémica que ainda vivemos e a incerteza relativamente ao dia de amanhã pode potenciar estados ansiosos que, por sua vez, podem aumentar a probabilidade de ocorrência de pesadelos.
Os pais devem encarar os pesadelos recorrentes da criança como um sinal de alerta de que algo a preocupa. Em primeiro lugar, devem reflectir sobre eventuais circunstâncias indutoras de stress na vida da criança. Está a atravessar mudanças significativas? Está exposta a alguma situação que possa gerar ansiedade? Manifesta algum tipo de medo ou dificuldade? A que vídeos e jogos tem acesso?
Intervir no sentido de minimizar as potenciais situações indutoras de stress na vida da criança será sempre o primeiro passo.
Incentive a criança a falar sobre o seu pesadelo. Dizer «esquece, não penses mais nisso» não costuma ser eficaz, podendo inclusive ter o efeito contrário. Ao falar sobre o seu conteúdo, o pesadelo pode até parecer menos grave e assustador, na medida em que a criança se vai dessensibilizando gradualmente face ao mesmo.
Ao deitar, os pais devem conversar com a criança, validando eventuais emoções mais desagradáveis que possa estar a sentir e incentivando-a a falar sobre elas. Ao verbalizar o que pensa e sente, é natural que a criança se sinta mais relaxada e confiante.
A meio da noite, se a criança chorar e chamar por si ou aparecer no seu quarto, tranquilize-a, mantendo sempre um tom de voz baixo e pausado. Não é hora de lhe pedir para relatar o pesadelo, mas sim de a acalmar, ajudando-a a perceber que o pesadelo não corresponde à realidade. Se for necessário, fique ao seu lado algum tempo até que volte a adormecer.
No dia seguinte, quando a criança estiver mais tranquila, podem fazer alguns jogos e brincadeiras que permitem retirar a carga de ansiedade do pesadelo. Desenhar o pesadelo ou moldá-lo em plasticina, pensando depois em formas de o combater e de ganhar essa luta. Dramatizar uma peça de teatro em que a criança, aliada aos pais e aos irmãos, vence o pesadelo!
Os pesadelos das crianças podem ser transitórios e, quando ocorrem pontualmente, é pouco provável que estejam relacionados com uma situação problemática. No entanto, a forma como os pais lidam com a situação pode fazer toda a diferença. Esteja atento, escute o que o seu filho tem a dizer e ajude-o a perceber que não está sozinho neste processo.