Incertezas e contorcionismo
A nota de conjuntura do Fórum para a Competitividade relativa ao terceiro trimestre inquietou vários economistas ontem, ao ser divulgada. A economia portuguesa manteve um crescimento homólogo de 1,9%, mas com uma desaceleração trimestral de 0,6% para 0,3%. Mais, a qualidade do perfil de crescimento mostra deterioração, no mesmo período, com a aceleração do consumo privado, de 2% para 2,3%, e desaceleração do investimento de 10,5% para 8,8%. São demasiadas desacelerações juntas.
O Fórum para a Competitividade alerta ainda que uma subida do salário mínimo sem que a produtividade o acompanhe pode vir a significar mais desemprego, até porque a conjuntura internacional apresenta também muitas incertezas.
O ciclo de crescimento está a mudar, a desaceleração europeia vai acabar por contagiar Portugal, como já se nota em algumas indústrias. É o caso daquela que se dedica aos moldes - muitos deles para o setor automóvel -, que já relatou as suas preocupações ao Dinheiro Vivo.
Não ajudam ao prognóstico a contração da Alemanha, o arrefecimento de Espanha e a pouca dinâmica da economia angolana e em geral dos países da CPLP, todos eles mercados importantes e com quem nos relacionamos todos os dias.
Enquanto atravessámos a bonança, teria sido bom que os ajustamentos, as restruturações e os equilíbrios, quer no setor público quer no privado, tivessem sido feitos. A partir de 2020 poderão ter de ser realizados à força, por imposições externas.
Dito isto, não me considero pessimista, mas sim realista, e reconheço mérito a quem conseguiu equilibrar as contas públicas, com esforço evidente para redução da dívida face ao produto interno bruto (PIB).
De futuro, mesmo que o programa e a vontade política se mantenham, o efeito global será incontornável. O próximo Orçamento do Estado, que vamos conhecer em meados deste mês, vai ser um exercício criativo e interessante, com muita ginástica à mistura. Diria mesmo que, para que o governo continue com a popularidade em alta, vai ser necessário ser um bom contorcionista.
Rosália Amorim é diretora do Dinheiro Vivo