Um país cheio de padrinhos e afilhados
A candidatura de Isaltino Morais à presidência da Câmara de Oeiras teve sempre todos os ingredientes para ser polémica. O passado do ex-autarca - o facto de ter sido condenado por corrupção passiva e fraude fiscal e ter estado preso - é para muitos motivo mais do que suficiente para que não regresse à vida política. E com acrescidas razões por ser candidato a um cargo executivo, como é o de presidente de um município.
Discordo destes. Isaltino foi condenado, pagou a pena que tinha a pagar, e quando saiu da prisão era um homem livre e com todos os direitos cívicos resgatados. A sua candidatura independente é legítima e são os cidadãos de Oeiras que têm de ajuizar se lhe querem renovar a confiança de um novo mandato. E nesse juízo irão pesar, com toda a certeza, o passado como presidente da câmara, mas também o modo como se comportou enquanto político e cidadão.
Mas o potencial de polémica passava também pelo facto de Isaltino avançar contra o antigo "afilhado" Paulo Vistas, que até se candidatou em 2013, num movimento independente com o nome do "padrinho" político e do qual saiu presidente da autarquia. É bom de ver que um contra o outro, agora em 2017, não ia ser bonito de assistir.
A roupa suja começou a ser lavada com a rejeição pelo tribunal de Oeiras da candidatura de Isaltino por alegados problemas técnico-legais, que o candidato contesta e dos quais vai recorrer. Ver-se-á se a candidatura tem condições para avançar daqui a uns dias.
A apimentar esta rejeição surge um juiz que decidiu em tribunal sobre a candidatura de Isaltino, quando é afilhado de casamento de Paulo Vistas e cuja a mulher trabalha, desde maio, nos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento de Oeiras e Amadora.
Neste país cheio de padrinhos e afilhados, pequenino e mal habituado a estas relações que umas vezes ajudam a desbloquear muita coisa, noutras ajudam a bloquear outra tanta, esperava-se que um magistrado tivesse mais discernimento para pedir escusa para julgar quando tem ligações tão próximas com um dos candidatos.
A candidatura de Isaltino até pode não cumprir todos os requisitos legais - não sei -, mas isso deveria ter sido aferido por um agente da justiça - que se quer totalmente independente do poder político-, ao qual não pudesse ser apontada qualquer falha ética, como vai agora ser ajuizado pelo Conselho Superior da Magistratura. O senhor juiz afilhado devia a bem da justiça evitar comarcas onde se julguem casos em que haja padrinhos à mistura.