Oposição assim-assim abre caminho ao CDS
Fernando Negrão estreou--se ontem no debate quinzenal. Sem surpresas. Não esteve mal, mas também não entusiasmou. O tom com que confrontou o primeiro--ministro, com um único tema, o da entrada da Santa Casa da Misericórdia no Montepio, foi sempre cordato - a combinar com uma "oposição responsável e construtiva", como anunciou logo no início da sessão parlamentar. Segue o estilo de Rui Rio, que não quer um partido estridente, que defende um PSD virado para os consensos em torno dos temas estruturais, e que está a cumprir numa ronda de negociações com o governo.
O PSD tira vantagem desta postura no confronto com o mais que hábil tribuno António Costa. Também ele terá, para já, alguns pruridos em desferir golpes violentos no maior partido da oposição que está disponível para lhe estender a mão em reformas que ficariam bem mais coxas sem um consenso alargado. É o caso do processo de descentralização, dos fundos comunitários e das grandes obras públicas.
O contraste com o consulado opositor de Pedro Passos Coelho - que ontem se despediu do Parlamento sob palmas e elogios até do PS - é tremendo. De um partido que parecia sempre zangado surge agora um partido crítico mas cooperante.
O problema é que se o PSD na oposição for só assim, como aconteceu ontem no Parlamento, o corredor da oposição "firme" fica completamente aberto para o CDS. No debate de ontem isso ficou transparente. A bancada que irritou o primeiro-ministro foi a do CDS, com Assunção Cristas a liderar o ataque mais contundente ao governo. A presidente do CDS tem, debate após debate, usado os problemas na Saúde - tema mais transversal não há - para demonstrar que neste governo nem tudo são rosas.
Hoje, Cristas tem o primeiro encontro com Rui Rio, e ambos vão falar de convergência e da tentativa de criar um bloco à direita que contrabalance o das esquerdas. A líder centrista tem feito esse caminho de confronto com o governo, até porque ministra que foi de Passos Coelho não pode renegar tudo o que foi obra desse governo PSD-CDS. O presidente social-democrata passa ao lado dessa herança do executivo anterior, está mais livre ainda para apontar tudo o que vai mal na geringonça. Para se afirmar na oposição não bastam confrontos assim-assim, como o de ontem. O tom pode não ser estridente, mas tem de ser acutilante. Ou António Costa, que já mostrou que é à esquerda que se sente bem, será impiedoso em 2019.