Franchising de políticos
Precisamos de empreendedores, é certo. Gente com ideia originais, capazes de gerar riqueza e emprego. Se um modelo de negócio pega, há como expandi-lo num franchising que dá garantias mínimas de que tudo funciona segundo as regras de um modelo que se revelou de sucesso. Há para todos os gostos e feitios e nos mais variados ramos de negócios, mas mesmo com todas as garantias nem sempre o que é replicado acaba por dar certo.
Se é assim nos negócios, imagine-se na política, em particular na local, em que cada autarca tem de responder a problemas muito específicos das suas populações. O primeiro ensaio de uma espécie de franchising autárquico nasceu em Oeiras em 2013.
Nessas eleições autárquicas, aquele que foi o carismático presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, não podia candidatar-se por se encontrar preso. O seu delfim e número dois na autarquia, Paulo Vistas, assumiu a candidatura num designado Movimento Isaltino Oeiras mais à Frente. Ganhou a câmara limpinho com o franchising do projeto do antecessor.
O franchisado, que já é um homem livre, decidiu que a sua gestão foi mal replicada e concorre nestas eleições, também como independente, à câmara onde já foi feliz.
Esta vontade de clonar autarcas parece ter chegado ao Porto. No núcleo de apoiantes do presidente da autarquia há quem defenda que a "marca Moreira" devia alastrar a outros municípios da Área Metropolitana do Porto, nomeadamente a Gondomar e Valongo, ainda que sem a bênção do próprio Rui Moreira.
Ou seja, a "marca Moreira" serviria para catapultar candidatos ditos independentes noutros municípios, mesmo que a realidade daquelas autarquias seja, com toda a certeza, muito diferente da do Porto.
No limite, Rui Moreira acabaria a liderar uma espécie de partido dos independentes, o que na essência desvirtuaria o que realmente devem ser as candidaturas de cidadãos autónomas das forças políticas. A acontecer, este tipo de franchising político daria ainda mais a tentação aos partidos para se sentirem confortáveis a reivindicar lugares nas listas das candidaturas independentes. Como aconteceu recentemente com o PS a cantar de galo sobre a candidatura de Rui Moreira - e o autarca não gostou mesmo nada da brincadeira.
Ser independente é isso mesmo, ser único, ter um percurso, um projeto e uma mensagem política diferente das tradicionais. Se não for assim, mais vale deixar nas mãos dos profissionais as coisas da política.