Dez anos é muito tempo

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O tempo deu razão ao presidente do Benfica e, não sendo suficiente que isso fosse dito pelos comentadores, mesmo os mais influentes, o próprio Luís Filipe Vieira veio dizê-lo de viva voz ontem no Expresso. Teve razão e, mais, teve visão contra o situacionismo. Enfrentar as águas paradas também é o que se pede a um dirigente, seja em que área for. Mas, como o tempo não para, há já uma pergunta em cima da mesa: o acordo que o Benfica fez com a NOS, sendo excelente no curto/médio prazo tem sentido no horizonte de uma década? Como na velha canção de Paulo de Carvalho, dez anos é muito tempo, só que o anúncio permitiu o número redondo e muito sonoro dos 400 milhões, ótimo para alimentar jornais, rádios e programas de TV. O Benfica a tentar a cabeça dentro do campo precisava do seu momento alto fora do campo. Melhor era impossível. Se pensarmos no que tem sucedido nos últimos anos com o aumento dos valores dos direitos desportivos em Inglaterra, Espanha, EUA e até em Portugal com o próprio Benfica, as dúvidas sobre a duração do contrato são legítimas. Esses valores foram crescendo porque as receitas e os mercados ganharam dimensão e não sendo essa realidade ilimitada está longe de estar esgotada.

O Benfica, mesmo à nossa escala, que veja os exemplos dos clubes ingleses ou espanhóis e a forma como eles trabalharam e consequentemente ganharam receita na Ásia, América do Norte, Médio Oriente, Austrália ou mesmo África, não reduzindo África a Angola e Moçambique.

Dir-se-á que o Benfica não é, nem será nunca, o Real Madrid ou o Manchester United, mas é ainda assim uma marca global que extravasa a comunidade de falantes de língua portuguesa, que tem tido na sua equipa mais jogadores estrangeiros do que portugueses e todos esses fatores devem contar para a ponderação. O contrato sendo desdobrável permite, por isso mesmo, trabalhar todas estas variáveis e outras que o futuro nos reserva. A mutação tecnológica tem sido tão galopante que ninguém está hoje em condições de identificar todas as formas como um jogo de futebol será visto e comercializado daqui a uma década.

A NOS jogou uma cartada alta e ganhou. Com este movimento recebe a Benfica TV que parece voltar a valer o pouco que valia - um canal de clube é um canal de clube. Herda ou agrega, no entanto, os seus conteúdos internacionais e deixa de a ter como concorrente da SportTV, da qual a NOS é acionista, o que permite que o canal ganhe assim um novo fôlego.

O que farão os outros operadores, designadamente a Altice, a poderosa e enérgica dona da PT, não está ainda claro. Que será na mesma compradora e emissora da SportTV parece inevitável numa primeira fase, mas a médio prazo terá, com o FC Porto e o Sporting, uma estratégia própria? E estará disposta a pagar 40 milhões a cada um por época? Sozinha ou em parceria? Tempos interessantes.

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