Ontem conheci 007 no Estoril. Que elogiou as portuguesas

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George Lazenby contou que não eram as falas para decorar que o preocupavam quando filmava em Portugal "Ao Serviço de Sua Majestade", mas sim como manter os olhos abertos pois deitava-se na melhor das hipóteses às cinco da manhã. E muito falou este James Bond ontem, num jantar no Estoril, da beleza das portuguesas, das namoradas que terá arranjado naquelas semanas de 1968 em que flirtou no Hotel Palácio, lutou na praia do Guincho, acelerou pela Arrábida e ainda teve tempo de ver uma tourada no Zambujal. "Também gostei muito da comida", rematou.

Foi no final do jantar de gala, com smoking opcional, que Lazenby contou a sua experiência portuguesa. Mas antes, enquanto o ator posava nos jardins do hotel junto a um mítico Aston Martin, pude cumprimentá-lo e ainda houve tempo para dizer-me que há muito tempo não via o filme, que faz agora 50 anos que estreou. Mais tarde acrescentou sobre isto, entre risos, que também não se lembrava de ver os filmes com os outros 007, de Sean Connery a Daniel Craig.

A homenagem a Lazenby foi organizada pelo Hotel Palácio e pela embaixada britânica. Como disse o embaixador Sainty, Chris Sainty, após apresentar-se com esta nota de humor, James Bond é um produto britânico de grande sucesso. E é incrível como os fãs - e incluam-me - se adaptam à mudança de ator como se o agente secreto fosse sempre o mesmo, apesar de certo estilo pessoal de cada um. Lazenby, por exemplo, pouco tem que ver com Sean Connery, o pioneiro, e no entanto há membros do clube de admiradores do 007 que o consideram o melhor de todos. Alguns vieram do mundo inteiro para o jantar no Estoril e não se cansaram de o dizer, até ao próprio Lazenby, radiantíssimo.

O australiano, que falou do seu grande ego e também o mostrou, só fez um filme porque assim o quis. Os produtores queriam mais e até houve uma batalha legal que prejudicou a carreira de Lazenby pós-Bond. Mas foi curioso ouvir contar na primeira pessoa como um vendedor de carros é descoberto para modelo ("quando um tipo chegou junto de mim e disse-me que eu tinha bom aspeto pensei que era gay"), depois ultrapassa toda a gente no casting para substituir Connery ("tive de mudar a maneira de falar e até de andar") e de repente está em Portugal a filmar.

Também presente esteve o vilão daquele filme, Terence Mountain. E, claro, José Diogo, o jovem porteiro do Hotel Palácio que aparece numa cena e continua ao serviço do magnífico hotel situado ali mesmo ao lado do casino (tal como o veterano porteiro José Afonso). A própria inspiração de Ian Flemming para criar a personagem nasceu no Estoril, a partir do jugoslavo Dusko Popov, agente duplo num ninho de espiões que era Lisboa e arredores durante a Segunda Guerra Mundial. O Hotel Palácio gosta de relembrar a sua história e faz muito bem. Aproveito para relembrar que as letras góticas do Diário de Notícias também aparecem em "Ao Serviço de Sua Majestade", quando o agente passa no Rossio de carro junto à antiga livraria do jornal. E como setubalense, que orgulho nas belas cenas filmadas na Arrábida.

Vem aí o filme número 25 da série 007. Será o primeiro, em princípio, depois do Brexit. Mas este divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia talvez nos deva fazer ainda admirar mais Bond e a sua essência tão caracteristicamente britânica. E, afinal, quando "Ao Serviço de Sua Majestade" foi lançado o Reino Unido ainda não estava na então CEE, mas já o monarca era Isabel II, outra grande fã de 007 (quem não se recorda da abertura dos Jogos Olímpico de Londres, em 2012?).

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