A vida do presidente Jair Bolsonaro divide-se em duas: antes e depois do último domingo, 1 de setembro..É a opinião do bispo Edir Macedo, que, perante dez mil fiéis, recebeu nesse dia o presidente do Brasil no Templo de Salomão, gigantesca sede da Igreja Universal do Reino de Deus, no centro de São Paulo..No altar, de joelhos e de costas para o auditório, Bolsonaro foi ungido com azeite da igreja evangélica pelo bispo, que, com as mãos na cabeça presidencial, pediu a Deus que lhe desse sabedoria e coragem..O religioso criticou também "o inferno dos media" que se abateu sobre o presidente mas sossegou-o logo a seguir dizendo "eu estou aqui" - Macedo é dono da Rede Record, segunda televisão com mais audiência no Brasil, tida como favorável ao governo..Controverso, em 1995 o chefe da IURD foi filmado a rir e a lamber-se enquanto contava dinheiro dado por fiéis em Nova Iorque e é adepto da máxima "ou dá [o dízimo] ou desce [para o inferno]"..Ouvidos pela imprensa no templo, fiéis reforçaram que a partir daquele domingo - o tal que divide a vida de Bolsonaro em antes e depois, segundo Edir - o Templo de Salomão vai iniciar orações à nação brasileira para fortalecer o presidente e enfraquecer os ataques dos media. ."Aqui recebemos uma direção e seguimos. Fomos todos em Bolsonaro", disse uma fiel ao jornal Folha de S. Paulo..O apoio declarado do bispo Edir às vésperas da eleição presidencial do ano passado foi considerado essencial para a vitória do candidato do PSL..No primeiro ato após a eleição, entretanto, o casal Jair e Michelle foi receber a bênção de outra autoridade do tele-evangelismo, Silas Malafaia, pastor do ministério Vitória em Cristo, que os havia casado..Malafaia, entre outras controvérsias, aparece num vídeo, editado, a intimidar quem chamar os pastores de ladrões.."Uma meia dúzia de idiotas, de imbecis travestidos de crentes, porque essa gente não é crente, porque quem calunia pastor e fala da igreja não pode ser crente. Vou dar um conselho para você: fica longe de participar de divisão, de calúnia e difamação de pastor. Fica longe disso! Quer arrumar problema para sua vida, entra nisso! [...] Teu pastor é ladrão? Teu pastor é pilantra? Você não "tá gostando? Sai de lá e vai para outra igreja. Não se mete nisso não, porque não é da tua conta!".Um dos religiosos com mais influência sobre o presidente, Malafaia participou em boa parte dos 30 encontros dele com bispos evangélicos em sete meses de governo, parte deles para discutir a continuidade da imunidade tributária das igrejas no Brasil..Por sua vez, logo após a divulgação dos resultados eleitorais, Bolsonaro, Michelle e o seus colaboradores mais próximos uniram as mãos para ouvir em direto e ao vivo para todo o Brasil uma oração do pastor Magno Malta, vocalista da banca gospel Tempero do Mundo, que chegou a ser convidado para vice-presidente..A proximidade de Bolsonaro com Macedo, Malafaia, Malta e a generalidade do público evangélico rendeu 74% dos votos nas 32 cidades com maioria da população desse grupo nas últimas eleições, segundo o jornal O Globo..O movimento de aproximação a pastores e bispos foi calculado: católico de nascimento, o então deputado meio anónimo foi batizado ainda em 2015 por um pastor nas águas do Rio Jordão, em Israel..E desde então, vive, em campanha ou no poder, rodeado de líderes evangélicos..Mas nenhum bispo foi tão decisivo como aquele que há um ano exato desferiu a facada que mudou os rumos da corrida presidencial: Adélio Bispo, o inimputável autor do atentado de Juiz de Fora, preso hoje numa cadeia de Campo Grande, Mato Grosso do Sul..Na verdade, a vida do presidente Jair Bolsonaro dividiu-se em duas: antes e depois daquela quinta-feira, 6 de setembro de 2018.