A Europa, que tantas vezes quis apresentar-se como o Ocidente soft, uma versão moderada e moderadora da América, tem, finalmente, a oportunidade de mostrar se quer influenciar o Mundo. E o dever de o fazer..A relação entre a Europa e os Estados Unidos está em evidente crise. Possivelmente a crise é transitória e um novo presidente, quando houver, retomará onde ficou, mas para já o que temos é isto. Ao mesmo tempo, a relação entre a Europa e o Reino Unido está em tal crise que nem sabemos onde irá parar, mas a suspeita é que o divórcio vai ser feio. A isto acresce que a Rússia, hoje, é uma ameaça a sério; a Turquia, praticamente não é um aliado; a China é, no mínimo, uma incógnita; e o Mediterrâneo é um perigo e um fator de insegurança externo e interno. E por aí fora. E, então, o que vamos fazer?.Uma das hipóteses é deixar morrer o mundo que construímos ao longo das últimas décadas, em cima dos séculos anteriores. É admitir que com o fim do "fim da Guerra Fria", em vez do fim da História veio o fim do Ocidente. Sem alternativa, por um lado, e liderança, por outro, o Ocidente deixa de fazer sentido e o mundo será multipolar e mais justo (para os ingénuos), ou pouco democrático e livre e, sobretudo, chinês, para quem é mais realista. Em qualquer dos casos, uma das hipóteses é, manifestamente, desistir. Ou, no máximo, resistir sem grande convicção. A alternativa, mais difícil, é acreditar que os conceitos essenciais do Ocidente continuam a fazer sentido, e defendê-los..A ideia de uma sociedade livre e democrática, onde a Lei prevalece, os direitos dos cidadãos são fundamentais, o poder do estado é escrutinado, a imprensa é livre, a liberdade de expressão garantida, a economia essencialmente privada, a propriedade respeitada e os homens são iguais perante a lei não tem absolutamente nada de ultrapassado. Pelo contrário..Se a Europa quiser, em vez de cúmplice passivo do fim da nossa história, pode ser o bastião dessa ideia. Deve ser. É uma questão de vontade, convicção, estratégia. É política. E claro, de dinheiro, homens e armas..Se aquilo que o Ocidente representa faz sentido e provou ser um bom modelo (o melhor, mesmo quando falha), é preciso quem fale em seu nome. Mais que isso, é necessário quem o represente de facto. Isto quer dizer fazer acordos de comércio livre com o maior número possível de países, apoiar movimentos e processos democráticos pelo mundo fora, continuar a ser a sociedade onde muitos querem viver e ter orgulho nisso, em vez de medo dos que chegam..Até recentemente, a ideia de a Europa se distinguir da América era um projeto de quem duvidava do modelo Ocidental. Ou, pelo menos, acreditava com reservas. Hoje, defender o nosso mundo é, antes de mais, fazê-lo mesmo que esta América não o faça. E contra quem, na Europa, à esquerda e à direita, o recusa.