Os velhos marinheiros e os jovens jotas

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Confesso, tenho um fraquinho por alguns falsos licenciados, por outros, não. Um dos meus melhores amigos, o Vasco, forjou um curso e andou com ele pespegado ao peito como uma medalha. Aliás, esta quando a comprou disseram-lhe que era genuína. E o curso ele usava-o não só como o canudo verbal tão português, ao telefone: "Daqui é o Dr. Vasco." A licenciatura do Vasco era de corpo inteiro e fardado, do boné aos sapatos imaculados. No meio, jaquetão e calças brancas, botões e insígnias douradas e até um cachimbo, enfim, tudo que dissesse quão licenciado ele era: o Vasco inventou-se a licenciatura em capitão-de-longo-curso. O pai, tacanho mas metódico, foi da tasca ao empório comercial e, entretanto, não teve tempo para dar um curso ao filho. Dinheiro, o Vasco herdou, mas o curso, ele fez-se por si próprio. Em Periperi, lugarzinho do litoral baiano, apresentado por Jorge Amado, conheci o Vasco e as suas histórias sobre naufrágios, ataques na costa turca, cargas de ópio e uma mulher em cada porto. Ele estendeu-me o cartão: "Vasco Moscoso de Aragão - Capitão-de-Longo-Curso". Estendi o meu: "Zé - Ex-Passageiro do Paquete Vera Cruz". Mentíamos ambos (de facto, andei no Niassa). Isso, invenções pessoais, é giro. Agora, mentir prejudicando o grupo que nos fez (empresa, partido...) paga-se. Mas o socialista Ascenso Simões acha que não, diz no Twitter: "Nuno Félix é um bom quadro político. Espero que volte." Estamos assim e não devíamos.

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