Os últimos centristas Costa, Sánchez, Macron
Em matéria de saúde própria, a moda são doses homeopáticas, pequeninas e graduais, ou mesmo dose nenhuma. Suspeita-se das vacinas e aprecia-se muito a medicina aromatizada, que ainda não chegou às Urgências dos hospitais mas está a chegar. Enfermeiros com batas cor de açafrão budista fazendo soar tamborzinhos suavemente, a receber o atropelado, com perónio exposto e hemorragias internas...
Como devemos ter um sistema compensatório para não inclinar tudo para o mesmo lado, em matéria de saúde da sociedade, a moda é o oposto, agressiva. Na direita isso é claro: virar violentamente a estibordo. Que é, por definição, o mau, não o bombordo. O PP aqui do lado acaba de abandonar o centro que o fez governar décadas: o seu novo líder Pablo Casado é pela viragem à direita brusca e firme! E na Grã-Bretanha, sondagem de ontem, a pobre de Theresa May está de mala aviada por causa do seu Brexit suave. Ela não entendeu: a moda é ser duro, pelo menos à direita.
Esta moda política explica-se com facilidade (à falta de a podermos compreender minimamente). Andar à nora andamos todos, à esquerda e à direita, sem explicação para o nosso novo mundo. A falta de visão é propícia ao aparecimento de mitos e estes irrompem melhor quanto maior for a sua improbabilidade e mais fulgurante a sua cabeleira (Trump, Boris...) São fascinantes como os faróis mas com efeito contrário, estes alertam para os escolhos, eles atraem para o desastre.
Esta moda parece imparável (Itália, já, Alemanha, a seguir) mas por cá o nosso laboratório ainda não apresenta soluções locais - como Eça contou, tudo nos chega tarde pelo Sud-Express. Entretanto, esta semana, Costa recebe o correligionário espanhol Sánchez e o último dos centristas europeus, o francês Macron. Portugal é o lugar adequado para um encontro onde não se fala da política de que se fala tanto e onde se pensa tão pouco, esta direita moderna (salvo seja). Em Portugal, o líder da direita, Rui Rio, ainda se agarra ao centro. Deveria ser de aplaudir mas fica-se com a sensação de contemplarmos o fim de uma época.