O Bolívar da treta

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Naquela ópera bufa em que se converteu o processo de independência da Catalunha pode faltar tudo, menos episódios. A moldura é extraordinária e protagonizada pelos filhos do "bora lá!, a gente basta querer, se der deu, não custa nada. Enfim, a causa sem custos. Atenção, desde sempre houve lutas mais ou menos utópicas, certas ou erradas, mas sempre acopladas, como sabia quem se metia nelas, a uma tabela de perigos indiciada ao tamanho da causa: podia atingir-se o céu ou acabar na pildra (e pior). Os filhos do "Catalunya, like, polegar pra cima!" estavam convencidos de que marcavam uma independência para sexta à tarde e tinham um fim de semana de folguedos. Não foi bem assim. Uma independência tem inconvenientes para outros - desde logo, os catalães que querem ser catalães e espanhóis, pelo menos metade da população da tranche de território destinada, pelo programa de festas, à secessão. E também pelos restantes espanhóis que consideram que um país não é uma empresa sujeita a uma rescisão unilateral de contrato por parte do Carles, da Manutenção. Era o Carles fazer o puny, manguito, à entidade empregadora e andor. Mas se o Carles era o Carles, da Manutenção ou de outro departamento, a empresa não o era. Era um país. Tendo o governo de Madrid compreendido isso, os dos cliques ficaram desasados. O Carles fugiu. Não é Bolívar quem quer. Desde aí, são os tais episódios. O último é o dos sms. O processo da independência começou como likes para fotos de gatinhos e continua com sms confessionais. São patriotas que não poupam no dedilhar. Carles Puigdemont mandou sucessivas mensagens, sabendo que seriam tornadas públicas, a um colega que numa conferência de imprensa deixou o mostrador do telemóvel exposto às câmaras de televisão. Carles reconhece tudo ter acabado. Mas nem a confessar ele dá a cara, faz de conta que foi sem querer. Reconheça-se uma coerência na ação: sempre com moderna tecnologia e aplicações mais avançadas.

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