Um Azeredo a voar e dois Tancos na mão

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Na quinta-feira, o dia foi passado com jornalistas a fazerem esta pergunta a políticos: deve o ministro das Forças Armadas ser demitido se estiver envolvido no encobrimento da entrega das armas roubadas em Tancos? Perguntas parvas pedem respostas loucas mas, ontem, alguns dos políticos que responderam - cito dois, Luís Nobre Guedes (CDS) e Luís Campos Ferreira (PSD) - refugiaram-se no óbvio: quem estiver envolvido com aquele crime tem de ser punido.

Interpretei eu: quem estiver envolvido, seja ele o ministro Lopes, o primeiro-ministro Costa ou o cardeal Patriarca, deve ser punido e o cargo ser-lhe retirado. Até eu, envolvido, deveria ser corrido do meu emprego por triste e má figura (e o mais que a Justiça exigir). É que estamos a falar do gravíssimo encobrimento da entrega das armas roubadas em Tancos, que é, pelo menos, uma de duas coisas: um crime estúpido de encobrimento sabe-se lá porquê e/ou um crime cometido por causa da cumplicidade anterior com os autores do roubo de armas em Tancos.

Esta manhã, durante a cerimónia do 5 de Outubro, um dos convidados, Carlos César, foi também interrogado por jornalistas. Hoje de manhã aconteceu depois do dia de ontem, isto é, depois do que se passara e já descrevi: políticos interrogados por jornalistas sobre se o ministro das Forças Armadas, caso implicado, deve ser demitido... O presidente do PS e do grupo parlamentar socialista não pode dizer que foi apanhado desprevenido quando lhe perguntaram isso.

Cercado por microfones, César enveredou por conversa mole, com aquela convicção de alguns políticos de que se afoga a curiosidade com o bocejo. Não se livrou, porém, da pergunta de uma jornalista: "(...) e as consequências podem passar pela demissão do ministro?" Pobre Carlos César, de tanto querer adormecer outros, caíra em sono profundo. Respondeu estremunhado: "Nã... Se o ministro da Defesa Nacional tiver responsabilidade sobre essa matéria evidentemente que terá de retirar as consequências..."

Desde logo, um erro sobre quem deve tirar as conclusões: se tiver responsabilidades, o ministro Lopes não pode decidir coisa nenhuma, deve é passar à situação de quem tem de apanhar com as consequências em cima. Segundo erro de um dirigente partidário apoiante do governo, o da falta de solidariedade para com um ministro: no estado público da investigação (que é o único a que ele se deveria ater), Carlos César tinha de ser tão prudente quanto foram os adversários políticos Nobre Guedes e Campos Ferreira, no dia anterior.

Agora, o que temos mesmo de esclarecer é o essencial: 1) em Tancos roubaram-se armas e urge apanhar os ladrões; e 2) em consequência do roubo, militares e não se sabe quem mais envolveram-se numa manobra para proteger os ladrões. Os responsáveis de 1) e de 2) devem ser perseguidos e punidos. E devemos saber tudinho sobre isso.

Entretanto, que um hipotético caso Azeredo Lopes não lance poeira para cima da resolução do 1) e do 2). Um ministro cair é irrelevante perante a gravidade do 1) e do 2). Mais importante que estes, só um 3), com o ministro Azeredo Lopes a participar no roubo da armas e/ou no encobrimento da entrega das armas. Sobre os dois primeiros casos, grito perguntas. Sobre o 3), confesso, não estendo por enquanto microfones.

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