Dona Dolores dá a tática (certa) ao filho Ronaldo
Estava eu a lamentar ser sempre o Cristiano Ronaldo a marcar os livres na seleção - ou melhor, batê-los e não marcar - quando a SIC me anunciou um exclusivo com Dolores Aveiro. A mãe de Ronaldo disse: "O meu filho vai fazer um bom jogo." Às vezes pergunto-me onde vão as pessoas simples buscar as palavras certas. Tivesse ela prometido que o filho marcava e eu ficava furioso. É que Ronaldo marcar, em si mesmo, só me dá por garantido um facto: ele passaria a ser o único homem da Terra a marcar em quatro fases finais do Europeu. E daí?! É só mais um recorde. O mais isto e aquilo, indicia, sem dúvida, que ele é grande. Mas a febre da recordização não alimenta os meus apetites egoístas. De que me serviu, ao fim dos dois primeiros jogos, ele, sozinho, ter chutado 20 vezes à baliza? Nenhum golo. E, no entanto, é uma espécie de recorde: com dois jogos, a equipa de Itália, toda junta, chutou menos (19). Mas meteu três golos e já está apurada. Eu não gostaria também que Ronaldo batesse o recorde de Király, guarda-redes húngaro - o de mais mal vestido deste Euro, com calças cinzentas de pijama. Prefiro, de longe, que se cumpra a promessa de Dona Dolores e o filho faça "um bom jogo". O que só pode significar que ganhamos. Mesmo que isso implique que Ronaldo não aumente o seu recorde pessoal de, em grandes torneios, bater 36 livres sem conseguir marcar. Ronaldo perde esse recorde, outro chuta o livre, faz golo (o que não é recorde nenhum), mas ganhamos todos.