A missa do iPhone 7 foi uma seca
Como a entrega dos Óscares em fevereiro, começa a ser sagrada a cerimónia do iPhone de cada vez que eles põem um número novo à frente da marca. Agora foi o sete, iPhone 7. Antes da missa de apresentação havia esse provável indício para muita emoção: 7, de sete mares... É certo que podia também ser alusão aos sete pecados mortais. Mas, aí, o número diria mais respeito ao que o consumidor podia fazer com ele: preguiça (não atender), ira (atirar o smartphone à cabeça do inspetor de impostos), luxúria (o diretor não me deixa escrever)...
Aquele 7, para o que ontem interessava - o patrão Tim Cook a vender-nos o produto - só podia ser sobre a grande novidade do novo iPhone. Sete mares, portanto. Pus-me logo a pensar que havia uma relação com Mar Negro, o Cáspio, o Adriático... E, sim, confirmou-se: o iPhone 7 era resistente à água. Senti imensa alegria. Acresce ao meu entusiasmo inicial que segui a cerimónia por um site espanhol que dizia: "Resistente al agua y al polvo." Fantástico, pensei por um momento. Era possível mergulhar com o iPhone 7 em águas profundas, até com cefalópodes. Porém, um amigo sevilhano explicou-me que "polvo" era outra coisa.
A desilusão aumentava: o aparelho vem certificado IP67, numeração que quer dizer que podia ser submerso em água até um metro. O que é quase publicidade enganosa porque até um metro só Mar Aral, que não pertence aos sete mares e só nos dá água pelo joelho. Não há grande novidade tecnológica quando um apregoado avanço pode ser remediado por meter o aparelho molhado dentro de arroz. Há dois anos, o meu cão levou-me o telemóvel para o bidé. Mergulhado em meio quilo de arroz carolino, secou-se em dois tempos. Se a Apple está a contar ter grande sucesso na China com uma inovação que um punhado de arroz resolve...
Quanto ao mais, gostei das cores. Dourado, dourado rosado e prateado, e dois negros: negro negro e Jet Back, seja lá isso o que for. Mas, mesmo aí, também uma pequenina desilusão. Há 101 anos, a Ford lançou o Modelo T e uma das suas novidades foi gritada pela campanha publicitária: "Disponível nas cores que quiser, logo que seja preta." Um século e um niquinho depois, é avanço, mas não acho que seja enorme, disponibilizarem-se só mais três cores e mais um tom do que o Modelo T. Em todo o caso, é de ter em conta que sou um consumidor pouco dado às questões tecnológicas: costumo comprar automóveis pelo cheiro de estofos novos.