Os fundamentais

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Quatro fatores contribuíram para o adiamento das negociações sobre a Síria, marcada para ontem em Genebra. O primeiro é a divergência entre quem deve ou não representar a oposição a Assad. Como sabemos desde o início da guerra, já lá vão quase cinco anos, a competição dentro da oposição sunita tem sido um dos trunfos da manutenção do regime e do crescimento do ISIS. Sem uma agenda comum, liderança e estrutura militar coesa, os vários grupos permanecem apoiados por atores externos também eles com interesses particulares. À medida que Assad foi ficando, parte desses grupos radicalizou-se e muitos passaram à órbita da Al-Qaeda e do ISIS. O segundo fator é a defesa de alguns, como a Rússia, da inclusão nas negociações de grupos curdos, absolutamente impensável para a Turquia. O terceiro é a clivagem de ódio entre o Irão e a Arábia Saudita, acicatada com a execução do clérigo xiita por Riade. Sem iranianos e sauditas a contribuírem para algum desanuviamento do conflito, é impossível que se sentem à mesa representantes do regime e da oposição minimamente capazes de tornar um acordo num roteiro exequível. Nenhum se prestará a isso nem negociará qualquer cessar-fogo ou governo de transição, com ou sem Assad. O quarto fator é exatamente este: não há entendimento sobre o futuro de Assad. O Irão e a Rússia permanecem ao lado do regime, embora não excluam encontrar uma figura mais consensual se isso mantiver os seus interesses intactos e for um fator de eliminação progressiva do ISIS. Arábia Saudita, Qatar e Turquia continuam irredutíveis na defesa da mudança de regime. Entre estes dois blocos, EUA e alguns países europeus procuram um meio termo capaz de operacionalizar um cessar-fogo e tornar mais eficaz a frente anti-ISIS. Vale a pena lembrar que Washington está há 18 meses a bombardear o ISIS com os resultados que se conhecem.

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