15 março 2018 às 00h14

O sarampo (ainda) mata

Joana Petiz
Joana Petiz

Resultado de um grande trabalho conduzido ao longo de décadas, fortemente baseado na vacinação, Portugal anunciava há um par de anos as boas notícias transmitidas pela Organização Mundial da Saúde: o país conseguira a erradicação não apenas do sarampo mas de outras doenças altamente contagiosas e perigosas como a rubéola, a malária, a varíola e a poliomielite. Longe vão os tempos em que um diagnóstico de sarampo era encarado com a preocupação que nos merecem as doenças que matam. Mas talvez já não seja bem assim. No ano passado, o sarampo voltou a aparecer e a matar em Portugal - e se tomarmos a Europa como exemplo, os casos de sarampo registados alargam-se para 2573 (o quádruplo do ano anterior), com 35 casos mortais, todos eles de crianças não vacinadas. Neste início de ano, ouvimos falar em novos casos - são pelo menos sete confirmados e mais de 30 suspeitos - e não podemos deixar de nos surpreender com o ressurgimento de uma doença que aparentemente tinha sido erradicada. Acontece que, enquanto nos países africanos, por exemplo, se multiplicam as campanhas a apelar à vacinação para conseguir reduzir os números negros da mortalidade associada a doenças que por cá temos a sorte de não conhecer, pelo menos em toda a sua força, por toda a Europa tem-se assistido ao movimento contrário. A erradicação deste tipo de doenças parece ter gerado em certas comunidades a crença de que as vacinas não eram fundamentais - alguns indo ao extremo de as considerar mesmo tóxicas. E à falta de obrigatoriedade (só há oito países europeus onde é obrigatória a inoculação contra o sarampo, por exemplo), um número crescente de pais optaram por não vacinar os filhos. O resultado deste movimento está à vista, mas os seus efeitos podem agravar-se - basta ver que o sarampo é a doença mais infecciosa que se conhece (a média de contágio é de 90% das pessoas que entrem em contacto com alguém infetado) e está no top 3 das mais mortais da história da humanidade, logo a seguir ao VIH e à malária. Era importante que todos nos lembrássemos destes números.