O valor da alternância

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É muito importante que o país não fique num impasse. É muito importante que os cidadãos não se sintam reféns de governos e partidos esgotados, cansados, incapazes de sair da cepa torta. É muito importante que os portugueses não sejam condenados a um status quo abaixo das suas valências e ambições. É muito importante voltar a trazer a noção de mérito à governação, ou seja, que as chaves da casa sejam entregues a quem efetivamente tenha mais competências para corporizar soluções de mudança e futuro.

Se António Costa era um primeiro-ministro da velha guarda e conservador, com uma trágica aversão a reformas, uma inaceitável informalidade, e um triste foco no curto prazo e na politiquice, sabemos hoje que Pedro Nuno Santos ainda seria pior. Mal preparado, impetuoso, acantonado a dictates panfletários – seria um cocktail aventureiro para os desafios complexos que enfrentamos. Manifestamente não tem estofo para primeiro-ministro, e os portugueses, sempre sábios, já o perceberam.

Mas a questão não se resume a perfis de liderança. É uma evidência que o país não irá evoluir se insistir nas mesmas políticas erradas. É uma evidência que as grandes questões dos tempos atuais – habitação, saúde, educação, carga fiscal, combate à corrupção, qualidade dos serviços públicos, demografia – necessitam de novas abordagens. Menos visões dirigistas e mais mobilização da sociedade civil. Menos apostas “porque sim” em elefantes brancos e mais incentivos aos empreendedores e inovadores. Menos dogma e mais abertura a contribuições de agentes privados e terceiro setor, para aumentar a oferta. Menos fiscalidade penalizadora e mais rendimento disponível para as escolhas de cada um. Menos protecionismo e mais recetividade aos que vêm de fora para trabalhar e ao novo investimento, nacional ou estrangeiro. Menos prepotência ideológica e mais preocupação com as necessidades concretas dos cidadãos e utilizadores. Menos escolhas partidárias e mais confiança no mérito, nos espíritos livres e em novos talentos.

A verdade é que a AD tem vindo a desenvolver políticas alternativas, diferenciadoras, que poderão conduzir o país a novos patamares de riqueza, fomentando um ambiente mais aberto e justo. As soluções apresentadas pelos sociais democratas têm a marca do equilíbrio, das melhorias graduais, sem aventuras ou radicalismos, aproveitando todas as capacidades e energias das famílias, dos agentes económicos, sociais e culturais do país, sem excluir, sem preferir, sem tutelar. A AD tem escolhido o caminho ponderado, entre o situacionismo negacionista dos socialistas e as transformações abruptas e arriscadas das forças populistas. E com uma preocupação essencial: fazer crescer o bolo, criar as condições para gerar mais riqueza comum, pois este é o meio para atrair e fixar os jovens, e para gerar mais distribuição de rendimentos, mais inclusão social, mais oportunidades para todos.

Nada disto aconteceu por acaso. Luís Montenegro tem feito o percurso da formiga trabalhadora, passo a passo, reunindo equipas, mobilizando quadros técnicos, atraindo independentes, sabendo escutar, sabendo integrar. Não é exibicionista, propõe-se ser credível; não é um one-man-show, propõe-se liderar um coletivo; não é um político inflamado, propõe-se ser um fazedor realista. Transmite confiança, bom senso, serenidade. Não é coisa pouca.

As eleições de março serão muito relevantes. A alternância é um princípio essencial das sociedades saudáveis, abertas à noção de que não estamos condenados a ficar para trás. A evolução para uma situação melhor só acontece se substituirmos as políticas erradas e os protagonistas estafados. Nada muda se nada mudar. Tão simples quanto isso.

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