O Trump do PS

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Chegou ao Partido Socialista a febre da desordem que se expande no mundo. A promoção a líderes políticos de pessoas pouco qualificadas - com experiência de vida muito limitada, habituados a serem prepotentes, abusadores e desrespeitadores daquilo que não lhes pertence e que tomam para si sem perguntar - instalou-se.

Uma nova elite que não tem cultura, que não tem trabalho feito e que não se preocupa com os resultados das suas ações desde que essas lhes permitam, no imediato, aceder ao poder e a tomar como seus os destinos de um país.

Senhores que não respeitam as instituições, que acreditam ter o poder de decidir sobre aquilo que não lhes pertence e que se gabam de ser capazes de ultrapassar todas as normas - que existem exatamente para garantir que a liberdade se mantém e que a democracia sobrevive.

Pessoas que têm, sem dúvida, carisma, mas que fazem depender esse carisma da forma irresponsável como tratam as estruturas do Estado e as instituições, da forma brejeira como formam opinião e da maneira prepotente com que assumem decisões erráticas, que mais tarde se vangloriam de ter sido boas, independentemente do seu efeito real.

O mundo tem-nos dado exemplos destes, que acabam quase sempre em desastres para os países em que aparecem, mas que, porque a população está farta do politicamente correto e da permissividade dos que antes mais seriamente governaram os países, acabam inclusivamente por voltar ao poder, mesmo depois de ataques frontais à democracia, às instituições e à sociedade, como parece poder acontecer a Donald Trump.

Aquilo que me preocupa é não ver qualquer reação por parte das populações que assistem a estes escândalos criminosos e inaceitáveis e que continuam a perfilar-se no apoio a estas figuras.
Acontece nos Estados Unidos, acontece no Brasil, tanto na direita como na esquerda, acontece nos países de leste, uns à direita, outros à esquerda, acontece na América Latina também em ambos os lados e está a acontecer agora no Partido Socialista, em Portugal.

O mais estranho é que, quando o representante desta nova estirpe de vírus é do lado contrário, os seus opositores sempre veem os riscos enormes da sua potencial eleição e são mesmo clarividentes dos perigos com que se poderão confrontar.

Quando o dito representante é da linha política que lhes agrada, tolda-se-lhes a vista e correm desenfreados em seu apoio.

O resultado desta loucura da sociedade contemporânea só poderá ter um fim: a sua própria destruição.

Em Portugal, nunca um Governo tinha permitido que tantos dos seus membros se pudessem manter em funções, apesar de comportamentos incorretos que praticaram ou permitiram durante a sua governança.

Esta atitude teve claramente um efeito muito pernicioso na diminuição da exigência de comportamento cívico, de respeito e de rigor que é fundamental aos líderes e que garante a estabilidade de vida na sociedade.

A par disto, a menor competência dos detentores desses cargos públicos, a quem quase nada se exige para que os ocupem, criou enormes dificuldades na capacidade de decisão das instituições, o que levou a uma sobrevalorização dessa capacidade quando se avalia um candidato a líder.

Tudo isto levou a termos uma amostra de Trump na liderança de um dos partidos que mais vezes tem estado à frente dos destinos de Portugal. Seja quando decide impulsivamente e unilateralmente localização de aeroportos, seja quando autoriza indemnizações milionárias por WhatsApp, seja quando passa de um dos obreiros da gerigonça a um autodenominado social-democrata moderado, ou mesmo quando, num mero exercício de taticismo, passa de um dos principais críticos de António Costa a um aliado essencial. Tanta gelatina, impressiona.


bruno.bobone.dn@gmail.com

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