O (triste) retrato de um país que devia festejar as vitórias
A crónica de hoje devia ser apenas sobre o exemplo que a seleção sénior de futebol deu no fim de semana passado ao conquistar, pela segunda vez, a Liga das Nações. Triunfo sobre a congénere espanhola que garantiu largas horas de festa dos adeptos e dos jogadores ao ponto de parecer que tinham sido campeões da Europa ou do Mundo.
Um resultado que deveria ser aproveitado para se falar da qualidade dos jogadores nacionais. A grande maioria dos convocados para esta competição integra equipas de grande nível, como os que ganharam a Liga dos Campeões ao serviço do Paris Saint-Germain — e da qualidade do desporto português em várias modalidades.
Devíamos, assim, estar a elogiar uma indústria — o futebol — que, na época 2022/23, foi responsável por 0,26% do Produto Interno Bruto português, ou seja, 667 milhões de euros. E não nos podemos esquecer dos empregos que gera.
Mas não, o que temos visto e lido são exemplos do pior que o país tem para apresentar: ataques de elementos da extrema-direita, vídeos de presos que, em direto, fumam drogas, suspeitos de pertencerem a uma claque desportiva a incendiarem um carro onde seguiam elementos de uma claque rival. Só para dar três exemplos.
Comecemos pelo primeiro caso: 30 anos depois do homicídio de Alcindo Monteiro (10 de junho de 1995) uma pessoa que foi condenada a 17 anos de prisão por esta morte é suspeita de integrar o grupo onde estava o agressor do ator Adérito Lopes, junto ao teatro A Barraca.
De acordo com as informações divulgadas pelo DN, essa pessoa é considerada um ideólogo neonazi ligado ao grupo Portugueses Primeiro.
É mais um caso da violência que, infelizmente, começa a ser rotineira nas notícias e a dar espaço mediático a grupos extremistas. O que, certamente, não vai dar bons resultados...
O segundo caso dá uma péssima imagem do sistema prisional. Num momento em que há inúmeros alertas dos guardas prisionais para a falta de pessoal vermos, em direto, no TikTok, durante cerca de 20 minutos, um preso que aguarda julgamento por homicídio a fazer um direto enquanto fuma drogas e diz que é inocente — com o apoio de outros reclusos — levanta muitas questões que deveriam ter respostas...
Já o terceiro exemplo, infelizmente ligado ao desporto, só mostra existirem pessoas que apenas sabem provocar desacatos e que, no caso do ataque ao carro onde seguiam elementos dos Super Dragões, não deveriam ser autorizados a assistir a eventos desportivos — em concreto aqui, a um jogo de hóquei em patins.
Aliás, os suspeitos dessa ação são tão "espertos" que acabaram detidos no Pavilhão João Rocha aonde voltaram para ver o jogo de futsal entre o Sporting e os Leões de Porto Salvo.
O problema é que sem ações fortes da Justiça todas estas pessoas julgam que têm impunidade para fazerem o que querem. E isso não pode ser.
Editor executivo do Diário de Notícias