O Terror e a vergonha de um Estado ausente

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Portugal enfrenta, mais uma vez, uma época de incêndios marcada pela tragédia e pela repetição de erros antigos. A cada verão, renovam-se os alertas, os planos de emergência e as promessas políticas. Mas a verdade é só uma: o país continua sem uma estratégia eficaz de prevenção, falha nos meios, na justiça e no apoio aos operacionais que, heroicamente, enfrentam as chamas na linha da frente. Entre causas estruturais, negligência institucional e ação criminosa, o território nacional arde e com ele arde a confiança das populações no Estado.

É preciso dizê-lo com toda a clareza: quem pega fogo ao nosso país, de forma deliberada, conhece os riscos que está a provocar. Não é um mero criminoso. É um terrorista. Um incendiário com intenção deve cumprir penas pesadas, não apenas simbólicas. Não pode continuar a ser aceitável que mais de 80% dos fogos em Portugal sejam provocados e que, ainda assim, os responsáveis saiam em liberdade semanas ou meses depois, prontos a reincidir no verão seguinte. Isto não é justiça é fuga às responsabilidades.

A impunidade é, aliás, uma das maiores causas da repetição desta calamidade. Ano após ano, assistimos a situações absurdas em que indivíduos são detidos por fogo posto, mas libertados pouco depois. E o ciclo repete-se. Não posso deixar de perguntar: até quando? Até que ponto vamos continuar a tolerar este desrespeito pela vida humana, pela floresta e pelos territórios do interior?

Mas não são apenas os incendiários que expõem as fragilidades do sistema. O Estado falha também nos meios. Falha na organização. Falha nos alertas. Falha na prevenção. O chamado "Triângulo trágico da Floresta Portuguesa" — a má gestão do território, a legislação branda e o abandono do mundo rural — continua, ano após ano, a definir o nosso verão.

No Alto Minho, essa realidade é ainda mais evidente. É nesta região que tantas vezes os fogos ameaçam casas, comunidades e património natural. E é também aqui que sentimos com maior intensidade o abandono do poder central. Faltam três helicópteros para combate aos incêndios — e já se sabe que não chegarão a tempo do verão. Faltam equipas de intervenção rápida. Faltam meios logísticos. Faltam respostas.

E quanto aos bombeiros? Continuam a ser os verdadeiros heróis do país — voluntários, mal pagos, mal equipados, muitas vezes esquecidos. São eles que enfrentam a fúria das chamas, que protegem vidas, que evitam tragédias maiores. Mas o que recebem em troca? Palmadinhas nas costas e promessas vazias. É hora de exigir respeito e dignidade para quem está no terreno: seguros, equipamentos, apoios, reconhecimento. E ação política séria.

Portugal arde porque o Estado falha. Porque há décadas que se protege a burocracia e se esquece a floresta. Porque a justiça é lenta. Porque os governantes preferem discursos a decisões. E porque ninguém assume, de forma clara, o compromisso de mudar esta realidade.

Enquanto eleito por este território, continuarei a exigir legislação firme, penas pesadas para incendiários, mais meios para o combate e dignidade para os nossos bombeiros. Porque amar Portugal também é protegê-lo. E proteger o Alto Minho é uma prioridade nacional. Porque também aqui, em cada serra e em cada aldeia ameaçada pelas chamas, está um pedaço do nosso país. E nós não vamos desistir dele.

Economista e deputado à Assembleia da República

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