O Senegal Faye/Sonko, finalmente definiu-se no Dubai Airshow 2025

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A cada dois anos realiza-se no Dubai a grande feira dos grandes negócios da aviação militar e civil. Se biliões são mil milhões em português, como se “traduzirá” triliões? Foi neste “harém de cabedais, ouro e mirra” que “o Senegal da corda-bamba”, apontou o azimute para Ocidente a partir de Doha! Como?

Assim, de repente, encomendou nove Boeings 737 MAX 8, com opção para mais seis. A 100 milhões a peça, o importante da semana passada não foi o dinheiro, mas o facto de a Air Senegal voltar a optar por aviões americanos, para renovação de frota, 20 anos depois. Este engajamento, pressupõe consequente manutenção/financiamento/formação, o que reforça a posição estratégica de Dakar, enquanto hub aeronáutico da África Ocidental. Mais, a Air Senegal já manifestou interesse em abrir novas rotas para “as américas”, consolidando assim a queda, para o nosso lado, do Humpty Dumpty que o Senegal se tornou a partir do 2 de abril de 2024, com a eleição do actual Presidente (PR) Bassirou Diomaye Faye, com base na promessa de uma cisão total com a França, o que abria totalmente o flanco aos “vizinhos russos”, no Mali. Para estes, o acesso ao Atlântico é imperativo e tem sido fortemente disputado.

Desde esse abril, tentamos adivinhar os caminhos da dupla Diomaye Faye/Sonko, PR e PM senegaleses, perante as opções para a pequena e para a grande estratégia. E eis que nos salta à vista, uma compra residual, perante os triliões intraduzíveis das arábias, cujo significado é todo ele uma “opção estratégica do plano”!

Instalar a Boeing de novo em Dakar, é “colocar uma lança em África, com o peso de uma âncora”! É negar os planos russos para construir portos-de-águas profundas, no Atlântico NATO. É reforçar a “parede atlântica”, juntamente com a Mauritânia, que mantém os russos isolados na hinterlândia saheliana. É não permitir a expansão da Aliança dos Estados do Sahel (Mali, Níger e Burquina) e reforçar o puzzle incompleto que a CEDEAO se tornou com a falta desses três! É dar continuidade ao Franco CFA, moeda única que sustenta a “economia dos mais pobres da economia paralela” de rua, e que financia a paz social “em jeito de assim”!

A dupla Diomaye Faye/Sonko, bandeiras e grito do novo pan-africanismo, disseram tudo enquanto oposição desafiadora ao “francês Macky Sall”. Depois, foram confrontados com “os constrangimentos do exercício do poder”. A geografia não se muda, a Miss Universo quer acabar com a fome, mas não consegue, tal qual Trump quer acabar com a oitava guerra e ganhar o Nobel. Eu, só queria uns ténis sanjo pelo Natal. Nem Trump, nem eu, os vamos conseguir!

Politólogo/arabista www.maghreb-machrek.pt. Escreve de acordo com a antiga ortografia

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