O rico, muito rico, ultrarrico Elon Musk

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Com uma fortuna pessoal a rondar agora os 500 mil milhões de dólares, Elon Musk é o homem mais rico do mundo. E, como sublinha a Forbes, sempre a atualizar os números da sua fortuna, o dono da Tesla está “a meio caminho de se tornar o primeiro trilionário”, uma referência ao fabuloso trillion anglo-saxónico que equivale ao nosso bilião. E pelo menos uma centena de países do mundo têm um PIB inferior à riqueza pessoal do sul-americano naturalizado americano.

O historiador Fabrice d’Almeida, sendo autor de Uma História Mundial dos Ricos, livro que será apresentado em Lisboa na sexta-feira, obviamente tem de estar atento ao fenómeno Musk. E é interessante como o analisa neste momento, num esforço de objetividade, tendo em conta que à bem sucedida vertente empresarial houve uma tentação de intervenção política não tão brilhante. “A imagem de Elon Musk é agora distorcida pelos seus compromissos políticos e pelas dificuldades daí decorrentes: um desentendimento com o presidente Trump, a queda nas vendas de veículos e a dificuldade de capitalizar o seu investimento na rede social X. Mas antes disso, este gestor era considerado um dos melhores organizadores, um grande criativo e um trabalhador esforçado. O planeta inteiro procurava as chaves para o seu sucesso. Os financeiros afluíram para adquirir os seus títulos, e ele é um verdadeiro guru do futuro dos Estados Unidos, moldando os sonhos da humanidade com o projeto de viagens interplanetárias. Marte tornou-se um horizonte possível para ele. Tudo isto contribuiu para que conquistasse uma base de fãs disposta a segui-lo, mesmo nas suas experiências políticas altamente aventureiras. As suas qualidades de liderança são, portanto, inegáveis, mesmo que o seu sentido de história seja mais questionável. Para o historiador, é inegavelmente um dos ricos que estão a fazer história, que estão a mudar a lógica das sociedades”, diz d’Almeida numa entrevista hoje publicada no DN.

O livro do académico francês relata, e analisa, como os ricos se afirmaram na história. Houve uma época em que os muito ricos eram reis ou imperadores e só raramente algum banqueiro se afirmava também senhor de uma grande fortuna, o que geralmente acabava mal. “Quando se elevavam demasiado, o rei mandava-os prender e reaver os seus bens sob falsos pretextos. Foi o caso de Jacques Coeur, o maior financeiro do seu tempo, finalmente derrotado por Carlos VII no século XV”, lembra d’Almeida. Depois da Revolução Industrial, começou a haver outro tipo de muito ricos sem serem cabeças coroadas. Primeiro os Rockefeller e os Rothschild, ainda hoje nomes sinónimo de dinheiro, depois, já no nosso tempo figuras extraordinárias, vindas do nada, como o espanhol Amancio Ortega, dono da Zara, e finalmente as personalidades do mundo do digital, como Bill Gates, fundador da Microsoft, que chegou a ser o homem mais rico do mundo, agora muito abaixo de Musk na lista da Forbes, mesmo sendo dono de 107 mil milhões de dólares (o dólar ronda por estes dias os 86 cêntimos de euro).

Muito há para dizer sobre os muito ricos, desde que costumam querer deixar marca como filantropos a serem hoje oriundos de todas as geografias possíveis e imaginárias. Mas da reflexão de d’Almeida retenho duas ideias muito poderosas: 1) não é terem acesso a carros da Rolls-Royce ou a caviar beluga e champanhe francês do melhor que distingue os magnatas, mas sim o poder de escolher. “Até o ascetismo pode ser um luxo”, sublinha o historiador; 2) Os muito ricos não têm medo de revoluções, pois têm sempre um jato à disposição para se refugiarem algures num palácio distante, desde que não se deixem apanhar desprevenidos pela alteração da ordem social. O que verdadeiramente temem, aponta d’Almeida, é algo pessoal, a ruína e a degradação. É por isso que estão sempre insatisfeitos com o que têm, por muito que seja. Querem sempre ganhar mais. “Têm uma psicose de queda”, acrescenta o autor francês, impiedoso.

Aplica-se esta última ideia a Musk? Até onde poderá ir a vontade de fazer história? E a sua fortuna, tem limites?

Diretor adjunto do Diário de Notícias

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