Opinião
27 janeiro 2022 às 00h09

O que aprendemos com a campanha eleitoral?

Jorge Conde

Passamos por mais uma campanha longa, que começou ainda antes da não aprovação do Orçamento do Estado. Iremos às urnas decidindo em consciência o projeto que preferimos e os executantes do mesmo. Neste tempo teria sido interessante que os protagonistas, mas também os repórteres e jornalistas, nos tivessem esclarecido sobre um conjunto de assuntos, com boas perguntas e melhores respostas.

Falamos pouco de Europa, essa entidade cada vez mais frágil que contribui para a nossa normalização financeira, financiando projetos, gerindo crises como a que nos trouxe a pandemia, abrindo-nos um espaço de circulação de pessoas e bens.

Falamos pouco de economia, essa ciência abstrata para a maioria da população, mas que influencia o nosso presente e futuro. O cidadão comum votaria mais esclarecido se percebesse como manter financeiramente o Estado social, diminuir o défice, gerar riqueza, reter talento, etc.

Não falamos da crise demográfica, com a permanente diminuição do número de nascimentos e, com a pandemia, até do número de residentes. Como podemos incentivar o aumento da natalidade, travar a emigração e captar jovens estrangeiros que se sintam atraídos por trabalhar e viver em Portugal?

Falamos pouco da desertificação do país, um problema do interior, mas que começa a alastrar a alguns territórios do centro e sul litoral, como demonstraram os recentes censos.

Quase não falamos de transição climática e de transição digital, incompreendidas para a maioria da população, que não percebe a sua urgência e indispensabilidade e as culpabiliza por alguns aumentos dos custos de energia, num caso, e por alguma exclusão social, no outro.

Também estamos sem saber qual a solução de governo pós-eleitoral. Se por um lado há casamentos que são inconfessáveis antes das eleições, por outro há os que dificilmente se repetem.

Em vez de tudo isto, aquilo a que assistimos amiúde foram discursos de culpabilização pela precipitação do fim da legislatura, com a esquerda a acusar o governo, o governo a acusar a esquerda e a direita a lavar as mãos, como se não fosse também responsável.

Outro assunto da campanha foi a saúde e o SNS, tendo como cenário de fundo a pandemia, gerando consenso à volta da atuação dos profissionais de saúde, mas nem sempre sobre as posições da DGS. Falta a muitos dos candidatos e comentadores saber algo sobre a imprevisibilidade da ciência.

Em conclusão, o cidadão comum irá votar por clubismo, fazendo o seu voto de sempre, ou por protesto, optando pelas ofertas populistas e irreais ou, pior, não votando e engrossando os números assustadores da abstenção. Deviam os candidatos adotar no seu dia-a-dia posturas e comportamentos que entusiasmem os eleitores, criando nestes opiniões positivas e as campanhas seriam um momento de balanço e de afirmação pré-eleitoral.

Continuo convencido de que é possível cativar os que estão descrentes da ação política, levando-os a acreditar que a mudança se faz connosco e não com a nossa omissão ou negação. A política em campanha não pode ser um conjunto de insultos e de temas vazios. Tem de ser algo que entusiasme o cidadão para o seu papel de decisor.

Presidente do Instituto Politécnico de Coimbra

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