O que acontece quando paramos de ver notícias?

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Ficamos menos ansiosos, ao que parece. E reduzimos consideravelmente propensão a desenvolver uma doença mental. As conclusões - empíricas - foram reportadas ontem pelo The Guardian, que decidiu ir junto dos cidadãos perceber o que se estava a motivar uma quebra acentuada no consumo de notícias, reportada pelo mais recente relatório do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo. Segundo o documento, que também consultámos, 40% dos inquiridos, residentes em cerca de 50 países, admitiram evitar consumir notícias. Onúmero é 11 pontos percentuais acima do que tinha sido registado em 2017 e é um máximo de todos os tempos. No EUA este número sobe para 41% e no Reino Unido para uns impressionantes 46%. Ou seja: as pessoas não querem mesmo ver informação, porque sentem que aumenta os seus níveis de ansiedade e mal-estar, e porque, escreve ainda a publicação britânica depois de ter falado com vários cidadãos, promove uma sensação de assoberbamento. A verdade é que, sobretudo após a pandemia, parece haver uma tendência para notícias cada vez mais negativas - depois do Grande Confinamento foi a Guerra na Ucrânia, depois a Guerra em Israel, o aumento da inflação, o crescimento do extremismo, o aumento das desigualdades... tudo situações que podem agravar estados de espírito menos positivos, quando já se parte de uma base algo desconsolada. Mas também é verdade que se não conseguirmos reverter pelo menos parte desta tendência, teremos graves problemas para resolver. E não falo apenas de nós, enquanto grupos de media, mas sobretudo de nós enquanto sociedade. O acesso fácil (grátis) e imediato (redes sociais) a informação fez com que muitas pessoas facilmente se viciassem numa espécie de consumo ininterrupto deste tipo de conteúdo, criando imagens distorcidas da realidade - amplificadas pelos algoritmos. Deixar de consumir notícias, no entanto, tem o risco de alienar os cidadãos, e de os afastar ainda mais das decisões que são chamados a tomar, numa altura em que a sociedade precisa, pelo contrário, que todos trabalhemos em conjunto para pensar num futuro a longo prazo. É por isso que uma das soluções apresentadas tem sido o consumo “moderado”, e sobretudo, que exclua conteúdos como vídeos - que, por serem mais impressionantes imagéticamente, têm um impacto potencialmente mais significativo. Assinar uma newsletter noticiosa semanal, assinar apenas um jornal (e lê-lo), não consumir notícias através das redes sociais e estabelecer horários predefinidos para o consumo de notícias são soluções apresentadas pelos especialistas para combater, por um lado, a adição ao consumo ininterrupto de conteúdo e, por outro, a alienação total da sociedade. Uma espécie de pacto que sirva a todos da melhor forma, e que nos faça ser melhores cidadãos ao mesmo tempo que pessoas mais saudáveis.

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