Doutora, o meu filho precisa de mais consultas" é uma frase que ouço com alguma frequência. Uma frase que vem habitualmente de pais e mães envolvidos em conflitos parentais e que acreditam (ou querem acreditar) que o psicólogo resolve, como que por magia, os danos que eles mesmos provocam..Os conflitos parentais matam e os pais que expõem os filhos a estes conflitos, partilham com estes dados dos processos judiciais, dizem mal do outro progenitor, impedem contactos, instrumentalizam os filhos ou fazem alegações falsas de violência devem ser acusados de maus-tratos psicológicos. Porque é disso que falamos, de vínculos afetivos que são coartados e de infâncias que ficam reféns das guerras dos adultos. De crianças ameaçadas, aterrorizadas e presas em conflitos de lealdade que apenas destroem..O papel da psicologia neste tipo de processos não é linear. Pois se, por um lado, o psicólogo pode ajudar a identificar os problemas e o caminho a percorrer, num processo de mudança que se traduza num maior bem-estar de toda a família e, em particular, da criança, por outro depende muito (diria mesmo, muitíssimo) da colaboração dos pais para que esse mesmo caminho possa ser percorrido com sucesso..O psicólogo resolve todos os danos dos conflitos parentais? Não, não resolve. Apenas pode ajudar a criança a tentar sobreviver neste contexto disfuncional, minimizando as sequelas, pois a boa evolução destas situações depende de todos e, acima de tudo, dos pais..Quando os pais boicotam (perdoem-me a expressão, mas é isto mesmo) a intervenção psicológica, manipulam a criança e evidenciam uma falsa colaboração, não há intervenção psicológica que possa ser eficaz. Mesmo que a criança tenha sete consultas por semana, não é isso que resolve, por si só, a situação..Existe uma metáfora que me faz muito sentido e que partilho com alguns pais. Levar a criança ao psicólogo para resolver a situação e, ao mesmo tempo, manter uma dinâmica disfuncional de exposição ao conflito parental é como levar a criança ao médico, que prescreve um antibiótico, e dar-lhe pequenas doses de veneno em casa..Custa ouvir isto? Eu sei que sim. Mas é isto mesmo que muitos pais fazem. Envenenam os filhos com pequenas doses de veneno, mascaradas de cuidados e preocupação. Fingem que colaboram e que se preocupam quando, em boa verdade, estão centrados em si mesmos e nos seus interesses..Quem sofre, quem perde e quem são as principais vítimas destes processos?.As crianças. Sempre as crianças..Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal