O Professor

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«[…/…] Um Professor é, ao mesmo tempo, um sargento instrutor, um rabi, um ombro amigo, um disciplinador, um cantor, um erudito de baixo nível, um funcionário administrativo, um árbitro, um palhaço, um conselheiro, um controlador de vestimentas, um maestro, um defensor, um filósofo, um colaborador, um dançarino de sapateado, um político, um terapeuta, um louco, um polícia de trânsito, um padre, um pai-mãe-irmão-irmã-tio-tia, um contabilista, um crítico, um psicólogo, o último reduto.», in Frank McCourt, 2005, The Professor

Fazer uma homenagem ao Professor não é uma homenagem em causa própria. E não o faço por ser professor.

Fazer uma homenagem ao Professor é, antes de mais, porque o professor sempre foi para mim uma referência de grande importância. Foram todos referências pela positiva? Não. Mas a mão cheia dos que tive de referência valeram por todos os outros, embora todos mereçam a minha homenagem porque contribuíram para a minha formação.

Este ano que passou foi o ano da palavra professor. E nada é melhor que ter um professor na vida.

O professor – desde a infância até à idade adulta – ensinou-me e guiou-me a arte de ler e de escrever, a fazer contas, a olhar para a forma como se podem usar valores, a ser amigo quando precisei de amizade, a ser exigente quando precisei de exigência, a ser pai e mãe quando precisei de partilhar dúvidas de percurso, a ser um crítico mordaz quando precisei de ser criticado, a ser um elogiador e um incentivador quando precisei de um elogio, a chumbar-me quando eu mais que sabia que não tinha feito nada nem tão pouco estudado e a dizer-me para voltar, a dar-me a melhor nota quando fiz das tripas coração para chegar ao máximo, a ser injusto para que eu aprendesse o que era a injustiça, a ser grande quando precisei de saber o que era a grandeza. O professor foi muito para mim, da infantil à primária, do primeiro ciclo do liceu à entrada para a universidade. E na universidade. E continua a sê-lo agora quando são os meus alunos e os meus filhos os meus principais professores da atualidade.

O que ressalto do professor, strictu sensu, não são as atividades que faz. Essas, penso que são do conhecimento do comum dos mortais.

O que ressalto é a pessoa de referência. Para o bem e para o mal mas que me ajudou a que eu próprio me construísse, dizendo de mim para comigo, “este é o protótipo de pessoa que não quero ser” mas, também, “este é o protótipo de pessoa que não me importaria de ser”. O professor foi a minha primeira e, durante muitos anos, a minha única chefia para além da familiar. A minha liderança. O meu estereótipo de entrega. O meu estereótipo, também, de estupidez, de teimosia e de balda. A minha aprendizagem para o significado de porta aberta. Para ao significado de inacessibilidade. Para o significado de arrogância. Para o significado de sensatez. Para o significado de acessibilidade. Para o significado de humildade. O professor foi para mim a melhor forma de encontrar e estudar um ser humano adulto, em ação, e de me questionar sobre o que podia extrair dele de mais interessante e o que de nada interessante tinha.

O professor foi o meu role model para ser humano. E procurar ser melhor humano todos os dias ao escrutinar centenas de professores e poder, de entre eles, fazer escolhas: os que são modelos para mim e os que não são modelos para mim. Ajudou-me a formar. Ajudou-me a crescer sempre. Mesmo quando o crescimento foi por via da dor. Mas também me ajudou a crescer quando o crescimento foi por alegria, por ajuda, por entrega, por abnegação, por capacidade para chegar até mim e entender-me. Ou até perdoar-me.

O professor permitiu-me chegar ao conceito de escolha: o que quero e o que não quero par mim. E para isso só pode existir uma palavra: gratidão.

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