O processo de luto

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A morte faz parte da vida e isso é algo que aprendemos desde cedo. Ainda assim, e apesar da sua natureza universal e inevitável, não é por isso que custa menos. Vivemos também uma época particularmente difícil. Os dados da covid-19 entram-nos pela casa dentro e, todos os dias, pensamos na morte. Na morte das pessoas em geral mas, acima de tudo, na morte daqueles que nos são mais próximos.

O Natal está à espreita, tempo de reunir a família e estreitar laços afetivos. Também agora, talvez mais do que no resto do ano, os lugares vazios à mesa fazem-se sentir com especial intensidade.

O luto é um processo com diferentes momentos, que pode ser agravado ou minimizado em função de diferentes variáveis. E é também um processo que demora o seu tempo.

Numa fase inicial, é frequente uma reação de choque e negação, como se disséssemos a nós mesmos que aquilo não aconteceu. Seguem-se momentos de maior desorganização e ansiedade, com reações emocionais mais explosivas, associadas a uma elevada insegurança e confusão. A expressão adequada destas emoções deve ser incentivada, contrariando-se aquilo que às vezes ouvimos dizer, "esquece, não penses mais nisso". Com o passar do tempo, podem surgir sentimentos de culpa, tristeza e, por fim, uma fase de aceitação da realidade, caracterizada por maior confiança e esperança no futuro, a par de um progressivo reenvolvimento nas atividades do dia-a-dia.

À medida que o tempo passa, as saudades permanecem e as memórias, também. Mas agora sem a angústia inicial.

E quando falamos em luto patológico?

Por vezes sentimos muita dificuldade em superar a perda de alguém significativo e corremos o risco de um luto patológico. Eis alguns sinais de alerta aos quais deve estar muito atento:

1. Tristeza intensa e dor emocional persistentes.

2. Evitamento de situações que façam lembrar a pessoa e as circunstâncias da sua morte.

3. Dificuldade em aceitar a morte da pessoa.

4. Pensar que não vale a pena viver (sentir a vida como um vazio na ausência dessa pessoa, sem possibilidade de ganhar novo significado no futuro).

5. Desejar ter morrido com a pessoa de quem tanto gostava.

6. Culpar-se pela morte dessa pessoa ou pensar que podia ter feito algo para a evitar.

7. Sentir-se "anestesiado" ou desligado das pessoas que lhe são queridas durante algumas semanas.

8. Sentir dificuldade em confiar nas outras pessoas.

9. Não conseguir realizar as suas atividades quotidianas (familiares, sociais, académicas ou profissionais).

10. Dificuldade ou relutância em procurar interesses ou em planear o futuro.

11. Terem passado pelo menos seis meses a um ano desde que a pessoa morreu.

Caso perceba que apresenta alguns destes sinais, peça ajuda especializada. Pois é possível aprender a viver com as saudades e as memórias que a perda de alguém querido nos deixa.


Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal

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