O primeiro-ministro Pedro. Qual deles?

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O país fratura-se entre dois putativos primeiros-ministros: o que vai a votos e o que não pode ir já. Estas eleições só se disputam em metade do espetro: consegue Pedro Nuno Santos convencer de novo o eleitorado do centro a dar uma maioria de esquerda, ainda que em formato geringonça, através de um PS forte? Se sim, Luís Montenegro ficará nos calabouços da história. Mas o atual líder do PSD tem ainda uma outra forma épica de perder: ficar em segundo, atrás de Pedro Nuno Santos, apesar de uma maioria de direita que inclui o Chega. Porque, nesse caso, Montenegro cumpre o que diz e sai?

Para começar, a promessa de Luís Montenegro de não fazer alianças ou acordos com o Chega é demasiado vaga. O que quer isso dizer? Num plano honesto, a promessa do líder do PSD significaria ter um Governo AD + Iniciativa Liberal aprovado no Parlamento, apesar do voto contra do Chega, o que é impossível de acontecer - todas as sondagens o dizem. E, como sabemos, o Chega pode não apoiar o PSD, mas na hora do aperto abster-se-á para não entregar o país à esquerda ou proporcionar novas eleições. Porque numas novas eleições surgirá, finalmente, a figura que encolherá o grupo parlamentar de Ventura, Pedro Passos Coelho.

Para estas eleições serem justas e sérias, o eleitorado deveria saber previamente esta coisa simples: governa a esquerda geringonça se ganhar, ou governa uma direita (sem Chega) maior que a geringonça. Foi isto que pareceu prometer Montenegro. E esta clarificação é necessária, mas não vai ser feita.

A ambiguidade é a forma de enganar o eleitorado. Na hora da oportunidade, o PSD quererá ficar no poder, seja como for, e Marcelo não nos dá garantias de que este jogo de palavras não valida uma traição face ao que foi prometido: a rejeição liminar dos apoios tácitos de Ventura. O Chega está dentro do sistema democrático, mas os seus votos não podem desempatar a nossa forma de viver, lei a lei, chantagem a chantagem.

Daí a clarificação seguinte. A questão de qual Pedro nos governa de 11 de março em diante. Porque é Pedro Passos Coelho quem legitima o PSD e Marcelo a uma atitude digna: fazer o que o eleitorado quereria já hoje (e vai querer ainda mais a 11 de março) se não houver maioria de esquerda. Novas eleições. Não há como fugir à história. Está escrito nas estrelas.
Por essa razão o PS tem aqui a sua grande oportunidade. Um renovado líder tornou-se na melhor hipótese de os socialistas ganharem mais quatro anos de poder. Probabilidade remota se Costa ficasse até 2026 e, nessa altura, Pedro Nuno Santos fosse combater o peso-pesado Passos Coelho, o único líder da direita capaz de absorver eleitorado da Iniciativa Liberal, do Chega e até do centro. O único “Cavaco” que resta no stock laranja.

Nessa medida, este congresso não podia ter corrido melhor: um discurso de Costa que dá ao PS uma vantagem emocional por força das circunstâncias em que sai; uma vontade e determinação novas trazidas pelo delfim rebelde do partido; e uma oposição disfuncional, onde não há comparação possível com a pose de Estado do socialista - e que ninguém à direita experimentou. Coisas que ficam escritas no ADN de quem passa pela glória e vitupério do poder.

O PS depende, assim, essencialmente de um fator que pode fazer a diferença para algum eleitorado indeciso ao centro. E resume-se a esta pergunta: o empresário Américo Augusto dos Santos pode dar alguma garantia de que o filho aprendeu o que são “contas certas”? Ou vem aí um novo Sócrates?


Jornalista

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