O país tem problemas? Não, o tema da semana é futebolístico

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Imagine o leitor que visita Portugal esta semana pela primeira vez. Chega ao hotel, arruma as bagagens e decide ver televisão (com ou sem ajuda de tradutor). Está a visualizar? Ótimo.

Agora diga-me: na maior parte do dia nos canais noticiosos (e depois nos principais telejornais, embora em dose menor) qual foi o tema dominante? Terá sido o facto de o grupo de peritos do Conselho da Europa que fiscaliza a aplicação da Convenção de Istambul (Prevenção e Combate à Violência contra as Mulheres e a Violência Doméstica) ter divulgado um relatório onde frisa que o poder judicial em Portugal é "brando" com os casos de violência doméstica, ao mesmo tempo que pede formação contínua para os magistrados? Ou análises à forma como se pode dar a volta à falta de habitação? E sobre a produtividade do país? Até mesmo debates relacionados com o facto de Portugal estar a pagar indemnizações a reclusos (segundo o Público de ontem, o valor foi de 1,2 milhões de euros em oito anos e promete aumentar) por violações dos Direitos Humanos nas prisões nacionais?

Lamento, mas não. O grande tema de atualidade é a atitude do jogador de futebol do Sporting Matheus Reis que: a) deu um pisão na cabeça do futebolista do Benfica Andrea Belotti de forma propositada; b) bateu com o pé na cabeça do atleta benfiquista, porque estava em desequilíbrio. Deixo as duas versões e o leitor decide por si.

São horas de debates sobre o tema que, na minha opinião, deveria ter sido analisado e resolvido rapidamente por quem de direito, para evitar o espetáculo a que temos assistido.

Até agora já houve uma queixa na Procuradoria-Geral da República contra o atleta sportinguista; o Benfica ameaça impedir a seleção nacional de jogar no Estádio da Luz e quer reunir com os dirigentes máximos do futebol português, e até disse que não iria a encontros onde se discutirá a centralização dos direitos televisivos (tema sobre o qual o clube frisou várias vezes ser contra).

Pelo meio, os adeptos dos dois clubes esgrimem argumentos a favor das suas cores. Com recurso, inclusive, a imagens antigas de agressões entre jogadores.

Eu, que até gosto (e muito) de Desporto (com D grande), preferia ver discutidas, e com resultados, algumas das questões atrás referidas. Mas, como diz um amigo: "É o futebol que nós temos. E, quando assim é, o desporto não sai dignificado." Enfim...

Editor executivo do DN

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