O orgulho, a memória e o sonho

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Começo por felicitar o Diário de Notícias por mais um aniversário. Num tempo marcado por ruído, velocidade e incerteza, a imprensa livre e independente tem um valor cada vez maior. Desde muito novo que o contacto com os jornais despertou em mim curiosidade e sentido crítico. A leitura tornou-se uma paixão e, numa época em que os jornais eram a principal janela para o mundo, foi também através deles que conheci melhor muitos dos meus ídolos. Essa ligação permanece viva, embora menos acentuada, mas dá hoje mais significado às linhas que escrevo.

Quando penso em 2025, a conquista da Liga das Nações surge de forma natural e marcante. Foi a edição mais exigente de sempre: dez jogos, distribuídos entre setembro de 2024 e junho de 2025, ao longo de uma época longa e intensa. Um percurso que nos obrigou a ser consistentes, resilientes e extremamente competentes frente a adversários de topo. A final four levou-nos a um contexto de máxima exigência: vencer a Alemanha em sua casa, 25 anos depois, com uma reviravolta histórica, e derrotar depois a campeã europeia Espanha no jogo decisivo. Foi uma resposta à altura de um desafio enorme, sustentada no compromisso, na união, na seriedade e no talento de um grupo que competiu sempre ao mais alto nível.

2025 trouxe-nos uma alegria imensa. Mas trouxe-nos também uma dor profunda, inesperada e difícil de aceitar: a morte do Diogo Jota e do seu irmão André. É impossível revisitar este ano sem pensar no Diogo. Na sua entrega, no seu caráter e na forma como vivia a Seleção. Quando a sua presença na final four esteve em dúvida devido a um problema físico – que mais tarde exigiria intervenção cirúrgica – ele nunca hesitou. Queria estar. Queria ajudar. Queria ganhar. Mas queria também algo maior: continuar a fazer crescer a Seleção com os olhos postos no sonho do Mundial.

Esse sonho está bem definido desde o primeiro dia em que cheguei a Portugal. É um objetivo meu, dos jogadores e de todos os que trabalham diariamente na Seleção. O caminho que temos feito – fortalecendo um espírito de equipa inabalável, consolidando ideias e aprofundando relações humanas e profissionais – dá-nos confiança e legítima a ambição. Renovamos, por isso, o convite a todos os adeptos, cujo apoio tem sido fundamental, para continuarem a acompanhar-nos neste percurso.

Portugal é uma das quatro seleções que, desde o ano 2000, marca presença em todos os Europeus e Mundiais, ao lado de França, Alemanha e Espanha. Isso diz muito sobre a consistência da Equipa das Quinas. O percurso recente reforça essa posição: uma campanha perfeita no apuramento para o Euro’24; uma eliminação nos penáltis frente à França decidida por uma bola no poste; a conquista da Liga das Nações na edição mais longa e exigente de sempre; e a qualificação para o Mundial’26 num contexto sem margem para erro.

Somos candidatos? Somos. Mas ser candidato não é o mesmo que ser favorito. Favoritos são aqueles que já viveram a experiência de serem campeões do Mundo. Em 92 anos, apenas oito seleções o conseguiram.

As nossas carreiras, enquanto treinadores e jogadores, pedem-nos que honremos tudo o que construímos até aqui e que lutemos por esse sonho com tudo o que temos. Devemos isso a nós próprios, ao caminho que percorremos juntos e à memória do Diogo.

Selecionador Nacional de Futebol

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