“O meu cão não cabe nas nossas férias”

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Com uma profunda tristeza e lágrimas nos olhos, dizia-me hoje uma criança que o seu cão, que tanto adora, não cabe nas férias da família. E, por esse motivo, os pais disseram-lhe que o cão teria de “seguir o seu caminho”. E seguir o seu caminho = abandono.

Os maus-tratos e abandono de animais de companhia é um crime (Lei n.º 69/2014, de 29 de agosto), mas a existência de legislação não chega - é preciso informar e consciencializar todas as pessoas e, ainda, assegurar que a legislação é devidamente operacionalizada. Ou seja, que as pessoas que cometem este tipo de crime têm a respetiva responsabilização.

Muitos adultos decidem acolher um animal sem que exista um processo de tomada de decisão verdadeiramente ponderado e refletido. Agem por impulso, porque as crianças pedem, porque o animal é muito fofo ou porque parece que é uma moda. Depois, chegada a hora de marcar férias, e deparando-se com as dificuldades que sabemos existirem em muitos locais, olham para esse mesmo animal como algo que é descartável.

Os animais não são objetos, que ora adquirimos, ora deitamos fora. Sentem fome, frio e sede. E, para além destas necessidades mais físicas, têm também necessidades emocionais - precisam de colo, de mimo e de atenção.

Para as crianças, mais centradas naquilo que realmente importa, o abandono de um animal é algo inimaginável e estapafúrdio. Simplesmente, não faz sentido. Porque, para a maioria das crianças, os animais fazem parte da sua família. Quando lhes pedimos o desenho da família, é muito frequente vermos um cão, um gato, um peixe ou uma tartaruga representados na folha de papel. Porque, em rigor, a família é composta por todos aqueles de quem gostamos e que gostam de nós - não interessa se existe um laço biológico, nem tão-pouco a espécie!

Agora que as temperaturas sobem e as férias se aproximam, é urgente falar sobre este tema, ajudando as famílias a encontrarem alternativas viáveis que lhes permitam ter férias, claro, mas de um modo responsável.

Porque ter umas merecidas férias não pode ser igual a abandonar um animal, seja ele qual for.

Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal

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