O Martinho da Vila e o Martinho que pela 'villa' passou
Teríamos de recuar várias décadas para encontrarmos registos de algo semelhante à tempestade provocada pela depressão Martinho, que atingiu o concelho de Cascais na semana passada. Os mais antigos não têm memória de algo parecido, e os estragos foram demasiado volumosos para conseguirmos ter, ao dia de hoje, uma ideia aproximada da sua dimensão.
Foram várias dezenas de operacionais colocados no terreno, e não houve “mãos a medir”. As solicitações, tal como a chuva soprada pelo vento, vinham de todo o lado, e era praticamente impossível chegar a todas as ocorrências, o que obrigou a um trabalho de priorização muito importante. Felizmente, poucas horas depois da intempérie, conseguimos repor grande parte da normalidade, dando as condições necessárias para os cascalenses retomarem o seu quotidiano.
Tudo isto só foi possível graças a um trabalho muito articulado entre a Proteção Civil de Cascais, as forças de segurança, as corporações de bombeiros do concelho, as várias unidades orgânicas municipais e algumas entidades privadas que se disponibilizaram, através da alocação de meios humanos e materiais, em ajudar. A todos eles, sem exceção, quero agradecer o empenho.
No entanto, o aproximar da tempestade trouxe o lado mais sujo da política. Um senhor ligado a movimentos políticos, que nos tem brindado com alguns vídeos repletos de mentiras, apressou-se a fazer, junto da Ribeira das Vinhas, um pequeno vídeo onde, para além de dizer um conjunto de barbaridades e de ter usado imagens que nem do local são, se apresentou como um verdadeiro “profeta da desgraça”. O “visionário”, horas antes da tempestade, previu o fim da Villa. Infelizmente, para ele, Cascais esteve longe de se tornar uma Atlântida.
Talvez sugestionado pelo nome da depressão, lembrei-me de uns versos do Martinho da Vila que diz: “Eu conheci um cara; que queria o mundo abarcar; mas de repente deu com a cara no asfalto; se virou, olhou pró alto, com vontade de chorar.”
É bom que, para a próxima, o senhor se lembre dos Martinhos, o da Vila e o que pela Villa passou, e vá, como diz a música, “devagar, devagarinho”.
Vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais