O Luís quer mesmo trabalhar?

Publicado a

Luís Montenegro soltou a frase “um dia vamos ter de pôr cobro a isto” e Rui Rocha, a sonhar com o governo de coligação AD/IL, propôs-se logo mexer na lei da greve. Pimba!

O pretexto para, mais uma vez, se atacar o direito à greve é a paralisação de comboios provocada pela adesão a uma série de paragens convocadas por 16 organizações sindicais da CP, umas filiadas na CGTP-IN, outras na UGT, outras sem filiação em qualquer central sindical. Mesmo assim o ministro Miguel Pinto Luz declarou, alto e bom som: “Esta é uma greve política”. Pimba! 

Os comboios não andam porque o Governo recusa aplicar um acordo que os sindicatos negociaram com a administração da empresa e que, segundo os próprios gestores, o governo aceitou. Foram estabelecidos aumentos salariais e prazos para os aplicar. Tudo parecia bem encaminhado e pacifico, mas, à última hora, o governo proclamou: “Não podemos aplicar o acordo da CP porque passámos a governo de gestão e a lei não nos deixa”. Pimba! 

Esta impossibilidade legal é capaz de ser verdadeira, não sei, mas estranho que esse problema não se tenha colocado quando, por exemplo, o patronato começou a implorar por apoios para enfrentar os prejuízos causados pelas tarifas aduaneiras impostas por Donald Trump às exportações portuguesas. Nesse momento o mesmo governo de gestão que diz não poder viabilizar os aumentos para os trabalhadores da CP, já devidamente orçamentados, não esteve com hesitações: “Temos aqui 10 mil milhões de euros para vos ajudar!”. Pimba! 

O problema é que a agilidade para arranjar soluções à grande para os que são grandes contrasta enormemente com a incapacidade para resolver os problemas grandes dos que são olhados como mais pequenos. Por exemplo, desde fevereiro mais de 87 mil pessoas perderam ou viram reduzidos, sem aviso, os apoios automáticos que tinham para pagar as suas rendas de casa. Mais grave; muitos delas não recebem esse dinheiro, mas têm legalmente direito a ele. Um alegado erro informático tirou-as da lista. Qual foi a resposta do governo a quem protestou? “Têm razão, mas estamos em governo gestão, temos de esperar!”. Pimba! 

Na campanha eleitoral o primeiro-ministro anda acompanhado de uma canção que diz “deixem o Luís trabalhar”, o que seria uma intenção legítima se ele não andasse, em vez de trabalhar, a esforçar-se por atiçar, contra os adversários políticos, a insatisfação popular provocada pelos transtornos da greve na CP que ele próprio provocou. 

Seria legítimo o Luís pedir para o deixarem trabalhar se se percebesse para quem ele realmente quer trabalhar: para os antigos e atuais clientes da Spinumviva ou para quem precisa do Apoio Extraordinário à Renda?  

Seria legítimo o Luís pedir para trabalhar se fosse claro que o Luís quer mesmo trabalhar para beneficiar os trabalhadores: afinal, no Dia do Trabalhador o que ele nos deu foi, apenas, um espectáculo pimba em São Bento com o cantor Tony Carreira. Pimba!

Jornalista

Diário de Notícias
www.dn.pt