O Lar da Criança

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As instalações do Externato Lar da Criança na Rua Almeida Brandão, foram inauguradas há 75 anos no mês de Outubro sob a direcção de Berta Ávila de Melo (Bertinha), tinha eu 19 meses de idade. Uns meses antes, ainda num andar na Rua da Imprensa, a Bertinha tinha concretizado um sonho. Era uma escola mista, coisa quase impensável na época, embora os meninos e as meninas tivessem aulas e recreios separados. Quando a minha irmã Graça fez dois anos, passamos a ser três na escola, eu tinha quase 4 anos e o meu irmão Mário 6. O meu Pai estava na India como médico miliciano e era muito irregular nas mesadas, e a Mãe Fernanda foi dizer à Bertinha que não tinha possibilidades de nos manter aos três na escola. Só teria possibilidades de manter dois, e a sair um, sairiam todos. A Bertinha foi peremptória, Fernanda, o Eduardinho fica bolseiro, e ficamos todos até ao exame de admissão ao Liceu. Dos 4 aos 10 anos, os melhores anos da minha vida, pude continuar a conviver diariamente com aquele que é o meu mais antigo e melhor amigo. Preferi ser secretário da Casa de São Roque, cujo presidente era o Marcelo, de que ser presidente de outra Casa como me foi oferecido. Ambos estamos de acordo que quase tudo o que fomos e somos na vida, o devemos à extraordinária formação que recebemos nos primeiros 10 anos das nossas vidas. A Bertinha foi para nós uma segunda Mãe, a Dona Alice a nossa professora excepcional. Tivemos de repetir a quara classe por fazermos anos depois do final de Setembro, e o pai do Marcelo com responsabilidades no governo na área da educação não ter acedido ao pedido da minha mãe para que eu pudesse ir a exame, porque isso iria também beneficiar o filho. Desse ano suplementar no Lar da Criança guardo recordações memoráveis, ganhei mais um irmão, e fiz a primeira comunhão vestido de branco numa cerimónia inesquecível no recreio dos rapazes. Como as nossas mães trabalhavam, o Marcelo e eu ficávamos mais tempo acordados na escola de que em nossas casas, a Bertinha foi para nós uma segunda Mãe. A sua enorme ternura não afectava a sua exigência pedagógica e o seu rigor, ser chamado à Bertinha era um suplício. Mantive com ela ao longo da vida um contacto permanente, acompanhou com orgulho o meu trajecto profissional, sempre me tratou por Eduardinho e vezes sem conta lhe disse que quase tudo o que fui e sou devo em grande parte aos fantásticos dez anos que vivi no Lar da Criança. Este ano festejam-se os 75 anos da minha segunda casa, agora sob a direcção da Rita, que “conheci” ainda na barriga da sua mãe. Várias gerações passaram pelo Lar da Criança, eu fui o mais novo dos fundadores, seguramente dos mais gratos por tudo o que dessa escola de eleição pude usufruir. Obrigado “Mãe” Bertinha, o Eduardinho tem muitas saudades suas.

PS - No próximo dia 18, sábado, vai haver um festejo especial. À tarde há uma visita à escola, e à noite jantamos no ISEG a 100 metros da nossa escola. Vai ser um encontro de várias gerações, e as inscrições ainda estão abertas. Basta telefonar à Rita para saber o que fazer (213965000 ou 964036636).

Cirurgião.

Escreve com a antiga ortografia

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