O Irão no Magrebe e a Polisario na Câmara dos Representantes na América!
Os tempos são de guerra”, foi o meu alerta ao ver uma mochila abandonada num corredor da escola! O enquadramento destes tempos, permite boleias, abre janelas e portas de oportunidade, por vezes a gosto.
O actual contexto da “Guerra dos 12 Dias”, colocou o foco nas ramificações do Irão, através dos seus proxies, facto que resultou numa sintonia rara entre Republicanos e Democratas. Os senadores Joe Wilson (Republicano) e Jimmy Panetta (Democrata), depositaram, dia 24, na Comissão dos Negócios Estrangeiros e na Comissão Judiciária do Parlamento americano, para simplificar, um projeto-lei que propõe classificar a Polisario como organização terrorista estrangeira.
O comunicado do senador Wilson é profundamente americano no seu statement, “A Polisario é uma milícia marxista, apoiada pelo Irão, Hezbollah e Rússia, permitindo ao Irão uma base estratégica em África, para a desestabilização do reino de Marrocos, um aliado americano há 248 anos”!
O “marxista” não faz qualquer sentido, mas é o “gatilho americano”. Não terem dito “milícia comunista”, até denuncia uma provável “evolução da espécie”!
Fez-me lembrar a solução ideal para uma explicação em menos de 24h, das razões dos atentados de Atocha/Madrid, em 2004. A explicação automática, a três dias das legislativas foi, “trata-se de uma clara colaboração entre ETA e Al Qaeda”! Toda a contra-natura resumida num primeiro-ministro em pânico.
Colocar islamistas e marxistas no mesmo saco, não cola ideologicamente, mas eis que surge a “excepção marroquina” num raciocínio americano, através do senador Wilson: “O Irão e Putin tomam as rédeas em África via Polisario - conectem os pontos: Eixo de Agressão”!
Quem diz isto, está certamente a par dos desenvolvimentos no Sahel, onde não há imagens, não há notícias!
E a notícia, já se fica pela metade se apenas considerar as juntas militares (Mali, Burquina e Níger) e a saída dos franceses.
Em função desses factores, a “Internacional Islamista” e a “regra mercenária” têm-se disseminado por toda a região. O cenário das tensões fronteiriças entre Argélia e as três juntas, que constituem a Aliança dos Estados do Sahel, tem-se agudizado de tal forma, que se projecta para breve que o independentista Azawad (norte do Mali), se torne o campo de batalha perfeito, para um confronto inevitável de há 50 anos, entre independentistas sarauís e as Forças Armadas de Marrocos.
Tudo, no ano em que se celebram precisamente 50 anos, desde a reivindicação territorial marroquina de Tânger a Lagouira, o número redondo que no contexto actual, permite um sentido de princípio, meio e fim!
Politólogo/arabista
Escreve de acordo com a antiga ortografia