O passado fim-de-semana foi de alegria para 43.889 estudantes, que viram o seu nome aprovado para entrar numa instituição de ensino superior do nosso país. Praticamente dois terços destes foram aprovados na primeira opção, e 90% numa das primeiras três. Nada mau. Como todos os anos, houve cursos cuja média de entrada aumentou e outros nas quais esta diminui significativamente, mas o que interesse é que teremos mais 44 mil estudantes – ainda faltam os candidatos da segunda fase – a cumprir aquela que é uma das últimas etapas de educação no nosso país. Não é um número despiciendo, apesar de representar uma quebra face ao ano anterior (são menos 12,2% mas há variáveis a contribuir para isto como a própria métrica de avaliação).Mas agora começa a parte agridoce deste processo: é que para os alunos que foram colocados longe de casa, a saga de encontrar alojamento começa e a preços muito elevados. Em Lisboa, a média de valor para arrendamento de um quarto – UM QUARTO – ronda os 500 euros. Num país onde o salário mínimo (ilíquido) é de 870 euros. Apesar do alargamento da oferta de residências universitárias, tal como o DN tem dado conta ao longo dos últimos dias, os números ainda são insuficientes para fazer face às necessidades. E a crise que se sente na habitação estende-se aos estudantes, o elo mais vulnerável que não devia ter no valor do alojamento estudantil um impedimento à continuação da sua formação. Nos últimos dois a três anos, o número de alunos que acabou por não prosseguir os estudos superiores parece ter aumentado – não há valores concretos, ainda assim – devido à impossibilidade económica de fazer face aos custos de pagar alojamento e as despesas inerentes a estar longe da família: comida, contas correntes, transportes... Em 2017, um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos dava conta de que “A mobilidade social entre pais e filhos é menor em Portugal do que na União Europeia segundo todos os aspetos considerados: escolaridade de pais para escolaridade e rendimentos de filhos e profissão de pais para profissão e rendimentos de filhos”. São os dados atuais mais recentes sobre o assunto, e tendo em conta a evolução da economia nacional, não deverão ser muito mais positivos oito anos depois. Ora, num país onde já temos o elevador social colado ao chão, e os pés colados a esse mesmo elevador, é urgente colocar a questão do alojamento para universitários no topo da agenda – algo que nenhum Governo fez ao longo das últimas duas décadas. Porque perder talento e a possibilidade de tornar o país em algo mais do que um recetor de recurso humanos qualificados vindos de fora, não é algo a que nos possamos dar ao luxo. Nem agora, nem em momento algum da nossa História, se queremos mesmo tornar Portugal num país desenvolvido, competitivo e menos desigual. Que estes 44 mil estudantes que se preparam para ser alunos do ensino superior possam mesmo ser parte do nosso futuro enquanto país. E que Portugal saiba honrar o seu esforço dos últimos 12 anos, não lhe cortando as vazas quando mais precisam..Universidade Nova aumenta 1100 camas em residências e cria app para alugar quartos.Ensino Superior. Só 13% das camas previstas no plano nacional de alojamento estão concluídas