O ódio e a desconfiança levam à diminuição do PIB

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Qualquer país que queira crescer com estabilidade, deve fomentar o respeito pelos direitos humanos, incluindo os direitos das mulheres e daqueles que pertencem a grupos étnicos minoritários. Defender valores éticos que respeitem a diversidade não é apenas uma questão moral, que por si só já devia ser uma razão suficiente, é também uma questão de produtividade e resiliência. Um estudo da McKinsey de 2020, entre outros, conclui que equipas e lideranças mais diversas têm maior probabilidade de superar as concorrentes em rentabilidade e criar impacto social positivo, e que ignorar diversidade penaliza os resultados e a saúde organizacional.

Apesar dos avanços significativos nas últimas décadas, as desigualdades persistem em diversas áreas, refletindo um desafio contínuo para a construção de uma sociedade justa e equitativa. Em 2021, o Índice Global de Desigualdade de Género revelou que, globalmente, as mulheres levarão 135,6 anos para alcançar a igualdade plena em termos de participação económica e oportunidades. Nos EUA, as mulheres negras recebem apenas 63 cêntimos para cada dólar ganho por homens brancos. Na liderança política, cerca de 27 países eram chefiados por mulheres no início de 2024, e as mulheres ocupavam 23% das pastas ministeriais, concentradas sobretudo em pelouros sociais, longe das áreas económicas e de segurança.

A crescente onda de ódio e intolerância que se espalha pelo mundo exacerba essas desigualdades. A retórica de discriminação e exclusão alimenta tensões sociais e pode levar a conflitos que impactam desproporcionalmente as classes mais baixas. Em contextos de crise, como a pandemia de COVID-19, as mulheres e minorias étnicas foram as mais afetadas, enfrentando não apenas desafios económicos, mas também um aumento na violência doméstica e na falta de acesso a serviços essenciais.

Acima de tudo a diversidade é um valor da democracia que tem de ser preservado, ensinado e praticado. Quando normalizamos exclusões ou toleramos insultos, corroemos o contrato social existente, os conflitos aumentarão, a desconfiança também, e isso leva a perdas de produtividade do país, ou seja leva a uma diminuição do PIB (que é o oposto dos argumentos em voga atualmente). O discurso de ódio alimenta intolerância, divide comunidades e, amplificado pelas plataformas digitais, gera conflitos locais. Esta falta de confiança e aumento da polarização reduz o investimento e a produtividade, afetando sobretudo os mais pobres.

As empresas também desempenham um papel crucial na promoção da diversidade. Para quem lidera empresas, a diversidade e o respeito cultural são temas de gestão de risco e de criação de valor. Integrar metas de diversidade nas práticas de sustentabilidade significa transparência salarial, objetivos de representação em liderança, promoção baseada em mérito e ambientes seguros.

Os pais e cuidadores são também agentes essenciais de educação cívica. As Nações Unidas sublinham que enfrentar o discurso de ódio requer educação, diálogo e narrativas alternativas. As famílias, e as escolas, têm aqui um papel essencial para evitar que os cidadãos estejam vulneráveis à manipulação e à intolerância. Assim, a educação dos pais sobre a importância da diversidade e do respeito pode moldar a próxima geração, cultivando uma cultura de empatia e inclusão desde a infância. A consciencialização sobre essas questões, tanto em casa quanto no ambiente corporativo, é vital para enfrentar os desafios sociais atuais.

É fundamental que governos e instituições se comprometam a implementar políticas que promovam a inclusão e o respeito pela diversidade. Isso inclui a criação de programas educacionais que enfatizem a importância dos direitos humanos e a empatia desde a infância. A promoção de diálogos inter-religiosos e interculturais pode ajudar a construir pontes entre comunidades, fomentando uma cultura de paz e respeito.

Portugal precisa de uma aliança prática entre democracia, diversidade e dignidade. Proteger direitos, promover igualdade para mulheres e minorias e combater ativamente o ódio não é uma agenda de elites: é a forma mais eficaz de evitar conflitos que empobrecem os que já têm menos e de construir uma economia mais criativa, mais justa e mais competitiva. A diversidade é motor de produtividade; o respeito pela diversidade é pilar democrático. Preservá‑la, incentivá‑la e implementá‑la é responsabilidade partilhada — nas empresas, nas instituições e em casa.

O respeito pelos direitos humanos e pela diversidade é essencial para o progresso da sociedade. Precisamos urgentemente rejeitar a retórica de ódio e discriminação e trabalhar juntos para garantir que todas as pessoas, independentemente de género ou etnia, tenham acesso igualitário às oportunidades e recompensas. Somente assim construiremos uma sociedade mais justa, democrática e mais produtiva.

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